Por Tatiane de Sousa / Jornalista
As tensões no Oriente Médio deixam o mundo perplexo e com medo. Na Europa e nos Estados Unidos os mais temerosos falam em uma 3ª Guerra Mundial. O temor, no entanto, não se confirma e parece não ter eco entre os governantes dos países ocidentais e potencias mundiais, sem interesse no aumento das tensões apesar de muitos ganharem com uma guerra sem fim com a exportação de material bélico. Outro medo é com a possibilidade de uma guerra nuclear. Irã e Israel são acusados de desenvolver programas de armas nucleares.
O estopim do conflito Irã x Israel desta vez foi o ataque ao consulado iraniano em Damasco, na Síria que vitimou o comandante sênior da Guarda Revolucionária do Irã Mohammad Reza Zahedi e pelo menos outros seis membros da Guarda Revolucionária do Irã. O ataque que fere todas as convenções internacionais (embaixadas são territórios neutros) suscitou uma série de bombardeios com drones pelos dois lados, mas ainda sem prejuízos graves que mostrem que a hostilidade possa chegar a uma guerra real.
Entretanto, a animosidade não surpreende. O professor de Relações Internacionais da UFRGS Bruno Mendelski de Souza esclarece que, em linhas gerais, o conflito atual é o mesmo desde de que o Irã passou a ser governado por uma república teocrática (crença no governo por orientação divina), a República Islâmica, em 1979, com forte vinculação religiosa assim como outros países da região.
“O governo do Irã percebe os Estados Unidos como uma potência imperialista, que se intromete, prejudica os interesses dos países muçulmanos do Oriente Médio e se recente com Israel pela postura com os palestinos com quem compartilham religião e língua. Ao expulsar palestinos de suas terras Israel acaba por se tornar hostil para todos os árabes”, explica.
Em contrapartida Irã também não é mocinho nesta disputa. A República dá apoio logístico, armamentos, treinamento e financia grupos terroristas como o Hamas, grupo radical que controla a Faixa de Gaza, um território muito pequeno da Palestina (mais ou menos do tamanho de Curitiba), mas com 2 milhões de pessoas. Também apoia o Hezbollah situado no Líbano, e os Houthis, do Iêmen, um país extremamente pobre que vive em guerra civil há mais de 10 anos que pela localização próxima ao Canal de Suez, uma rota de comércio importante, ataca inclusive alvos ocidentais que passam por lá.
“Essa é uma guerra sem mocinhos e bandidos: o Hamas realizou ataques bárbaros como o de 07 de outubro de 2023 que matou pelo menos 1.300 israelenses, mas Israel também fere os princípios do direito internacional e dos direitos humanos quando ataca alvos civis na Faixa de Gaza vitimando crianças e mulheres ainda que alegue que os civis estejam em alvos militares”, salienta Bruno Mendelski de Souza.
O Brasil mais uma vez tenta espaço na mesa de negociações só que agora não está sendo bem-vindo. As declarações críticas do Presidente Lula com forte apelo humanitário e condenando à postura de Israel, têm descredenciado o país como mediador enquanto israelenses têm forte apoio na Europa e Estados Unidos que ainda espelham os terrores do holocausto.
Por enquanto, os reflexos econômicos ainda não são percebidos no Brasil, mas a continuação dos conflitos pode causar instabilidade no preço do petróleo. “O comércio do Brasil com a Palestina é baixísimos e Israel também não é um dos maiores parceiros comerciais do país então, essa é uma guerra que não tem o mesmo impacto que a da Rússia e Ucrânia, que inclui as exportações russas de grãos e fertilizantes (o Brasil importa 85% do insumo, e a Rússia responde por 23% dessas importações)”, explica o professor Mendelski.