Em dois anos, ação ambiental retirou mais de 12 mil bitucas de cigarro das areias de Imbé

"Além de recolher o microlixo, ideia é conscientizar fumantes sobre o descarte correto desta vilã ambiental", explica o coordenador do projeto.

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Foto: Ivan de Andrade / Prefeitura de Imbé

Quem é fumante, normalmente, precisa encontrar um lugar para descartar a bituca, aquela parte do cigarro que nada mais é que o filtro envolto por um pedaço de papel que deve ser descartado após a queima do tabaco e das demais substâncias contidas no produto.

O problema é que, na beira da praia, por desconhecimento do quão nocivo este gesto pode ser, muita gente acaba por jogar as bitucas na areia. Não é por acaso que o material lidera o ranking do microlixo mais descartado de forma irregular diariamente. Um estudo recente coordenado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) revela dados que impressionam e preocupam: mais de 200 mil bitucas de cigarro podem ser encontradas a cada oito quilômetros de praia de todo o país.

Foi pensando nisso que a Eco Imbé, um coletivo de voluntários que atuam como uma espécie de guardiões do ambiente, implementou em 2021 o projeto de recolhimento das bitucas de cigarro da faixa de areia do município. Em duas edições foram mais de 10 mil bitucas recolhidas. “Na primeira edição usamos um quiosque como base. Já na segunda pensamos em algo coletivo, pois sabíamos que seria bem maior [o número de bitucas recolhidas]”, lembra Cleverton da Silva, idealizador e coordenador da iniciativa. “Além de recolher este lixo da beira-mar, nossa ideia é conscientizar o fumante sobre o descarte correto desta vilã ambiental”, complementa.

Neste ano foram mais duas ações com o mesmo objetivo, sendo uma no final de janeiro e outra mais recente, na metade de fevereiro. Cerca de 30 voluntários abordaram banhistas na faixa de areia, principalmente aqueles que descansavam com as famílias junto aos quiosques, apresentaram a proposta do projeto e lembraram os malefícios causados pelo tabagismo, tanto à saúde de quem fuma quanto ao meio ambiente. Por ali eles recolheram 947 bitucas na primeira edição e outras 983 na segunda, totalizando mais de 1,9 mil.

Pode parecer pouco, mas Cleverton propõe, para que se tenha uma dimensão do impacto, uma estimativa usando uma fórmula simples de multiplicação. “A coleta durou 30 minutos e se concentrou numa área de aproximadamente 100 metros. É assustador. Seriam bilhões rapidinho”, disse ele. “E estão praticamente todas aí, sendo lançadas na natureza, contaminando nosso ecossistema, fauna marinha e costeira, além de ser também uma questão de saúde pública”, avalia.

Foto: divulgação Eco Imbé

Para execução das atividades, o coordenador da Eco Imbé ressalta que são utilizados itens básicos como luvas, baldes coletores específicos para coleta de microlixo e máscara de proteção facial, além de álcool gel para higienização das mãos. O cigarro possui mais de cinco mil substâncias tóxicas. Cerca de 95% dos filtros de cigarro são feitos de acetato de celulose, material de difícil degradação. “Os peixes, as tartarugas, as aves costeiras, os tuco-tucos e até a mega fauna marinha ingerem esse poluente que pode os levar a óbito. Sem contar que, muitas vezes, eles acabam contaminando a própria carne de peixe que ingerimos”, alerta Cleverton.

Enquanto trabalha pela limpeza da orla — com esta e tantas outras ações de recolhimento de lixo promovidas ao longo do ano — e pela conscientização aos banhistas, o grupo sonha com o dia em que a iniciativa não será mais necessária. “Nossa meta é um dia não precisar fazer mais essas ações. Que o fumante possa entender que se ele não consegue parar de fumar, ao menos precisa ser consciente e descartar essa vilã no local adequado, na bituqueira, ou caso não tenha, no lixo”, encerra o ambientalista.

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