Josoé Ortiz, 39 anos, vive no bairro Porto, em Palmares do Sul, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Começou a trabalhar com pesca ainda quando era adolescente, aos 14 anos, mas antes disso já ouviu seu pai contar sobre um mistério que fez parte da rotina de quem pesca na Lagoa dos Patos durante quatro décadas: a queda e o desaparecimento de um caça F5-E da Força Aérea Brasileira (FAB).
“Essa história, desde os 12 anos, eu vejo meu pai falar que esse avião tinha caído ali. Na época, um sobrinho do meu pai [disse] que viu esse avião cair lá. Eu já sabia que era mais ou menos por lá que tinha os destroços”, contou Josoé ao Litoral na Rede, ao lembrar que outros pescadores já haviam pego parte da aeronave em suas redes, mas nenhum teria marcado o lugar exato.
Em 28 de julho de 1982, o caça F-5E, de matrícula FAB 4831, pilotado pelo tenente-aviador Edson Luiz Chiapetta Macedo desapareceu enquanto realizava, na área de treinamento sobre a Lagoa dos Patos, um combate aéreo simulado contra outro F-5E, ambos lotados na Base Aérea de Canoas (BACO). Apesar das buscas, nenhum vestígio do jato supersônico ou do piloto jamais haviam sido encontrados.
Alguns dias após o sumiço do avião completar 40 anos, no início de agosto, o pescador Josoé foi surpreendido ao recolher a sua rede. “Nesse dia, como deu um temporal de vento e a minha rede deu sujeira, pegou no fundo, arrastou no fundo, aí pegou aqueles pedaços [do caça]”, recordou Josoé. Os destroços estavam no Pontal Zé Martins das Desertas, distante aproximadamente quatro horas de barco de Palmares do Sul e a 20 quilômetros da praia de Itapuã, em Viamão.
Dessa vez, o pescador não perdeu a chance de identificar o ponto preciso onde as peças do avião ficaram presas na rede. “Eu já marquei no GPS o local exato onde eu peguei os pedaços, depois eu peguei mais uns e marquei os dois pontos exatos”, contou, lembrando que avisou o piloto de avião e velejador Cristian Yanzer, que há cerca de cinco anos já procurava pela aeronave.
Alguns dias depois, Josoé seguiu com seu barco de Palmares do Sul e o piloto em seu valeiro de Tapes. Eles se encontraram no ponto onde o pescador localizou as pedaços do caça. Com apoio de um sonar, o velejador conseguiu identificar mais peças da aeronave a poucos metros do local, onde outros destroços haviam ficado presos à rede.
O caso foi comunicado à FAB, que montou uma operação conjunta com a Marinha do Brasil e o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) para realizar buscas aos destroços do jato. Os trabalhos iniciaram na última quarta-feira (07) e se estenderam até sábado (10). Os destroços estavam a uma profundidade de 7,5 metros.
“Nessa operação conjunta foi possível recolher todos os destroços que foram mapeados, nos dando a certeza de pertencerem à aeronave desaparecida há 40 anos. Nossos agradecimentos à Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros do RS e ao velejador e piloto Cristian que participaram dessa operação”, destacou o comandante do V COMAR, Major-Brigadeiro do Ar Marcelo Fornasiari Rivero.
O chefe da Assessoria de Segurança de Voo da BACO, Major Aviador Cyríaco Bernardino Duarte de Almeida Brandão Júnior, destacou que as buscas só ocorreram graças à ajuda do pescador Josoé Ortiz.
“Fico muito feliz por ter achado este caça, que vi meu pai contar milhões de vezes esta história. E fico feliz por poder ajudar esta família que nunca soube o que de fato tinha acontecido”, finalizou o pescador, peça-chave para o fim do mistério de quatro décadas.