“Foi o melhor abraço que eu tive em toda a minha vida”, diz paciente com Covid-19 sobre reencontro com familiar

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Moradora de Tramandaí na Cortina do Abraço com a filha e a neta. Foto; Arquivo pessoal

O isolamento é um dos maiores desafios para pacientes infectados pelo novo coronavírus e seus familiares. Os dias e, muitas vezes, semanas de internação são sem qualquer contato físico entre pessoas que se amam. Mas uma iniciativa do Hospital São Vicente de Paulo, em Osório, está ajudando quem precisa forças para enfrentar a Covid-19 e um simples abraço tem sido um estímulo a mais para superar a doença.

O “abraço solidário” permite o reencontro entre os pacientes e seus familiares. Uma cortina de proteção em plástico separa pais e filhos, maridos e esposas, avós e netos. Na entrada da enfermaria de isolamento, pelo material transparente, eles voltam a ficar frente a frente e podem matar a saudade com longos abraços, devidamente protegidos.

A moradora de Osório, Daniela Nunes da Silva, de 43 anos, está internada há duas semanas no Hospital e, pela primeira vez desde a hospitalização, pode abraçar a filha Emylin Monteiro.

“Foi a cura do meu coração. Foi o melhor abraço que eu tive em toda a minha vida, a melhor coisa que aconteceu nesse último ano, me senti muito bem”, disse Daniela.

Mãe e filha se emocionaram. “Ter esse momento com a minha mãe quando ela mais precisava de um apoio foi muito importante para nós duas”, disse Emylin ao Litoral na Rede.

Paulo morador de Imbé se reencontra com a filha com abraço emocionado. Foto: Hospital de Osório

Paulo Ricardo Boeira da Rosa, de 61 anos, morador de Imbé, está há mais de 10 dias internado no Hospital São Vicente de Paulo. E o “abraço solidário” permitiu que ele se reencontrasse com a filha e matasse um pouco da saudade dos netos por vídeo.

“Esse abraço solidário, que eu vi só em televisão, pra mim foi fantástico abraçar a minha filha, sentir ela chorando, como se fosse pequeninha ainda. E vi meus netinhos nos vídeos que ela trouxe, a netinha de um ano caminhando”, disse Paulo, emocionado.

Ele afirma que foi um reencontro inesquecível. “Pra mim aquilo ali foi o máximo. De tudo que eu passei aqui foi um show. Ficou muito legal pra todos”, afirmou

A moradora de Tramandaí Maria Inês Bueno da Silva, de 61 anos que está hospitalizada na enfermaria em Osório desde a última sexta-feira, também teve a oportunidade ver os familiares. “Pude ver a minha filha e abraçar a minha neta, adorei”, disse a paciente.

A filha de Maria Inês, Marluce Bueno da Silva, contou ao Litoral na Rede que foi até o hospital com a filha de 13 anos e ainda fizeram uma chamada de vídeo para conversar com o restante da família.

“Chegando ao hospital, ela se emocionou e começou a chorar. Eu a acalmei. Foi emocionante, dava para ver o brilho nos olhos dela”, lembrou Marluce.

“Encontros auxiliam na recuperação do paciente”, afirma enfermeira do Hospital de Osório

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Cortina do abraço foi instalada pelos profissionais do Hospital de Osório. Foto: Hospital de Osório
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Pacientes isolados e familiares podem se reencontrar com segurança. Foto: Hospital de Osório

Desde o início da pandemia, 66 pessoas já foram hospitalizadas na enfermaria para Covid-19 do Hospital São Vicente de Paulo, em Osório. A convivência diária com os doentes, fez a equipe da instituição perceber que o isolamento estava aumentando a ansiedade e, em alguns casos, provocando quadros de depressão em alguns pacientes. Por isso, os profissionais de saúde decidiram garantir a segurança necessária para promover os encontros.

O “abraço solidário” começou a funcionar na semana passada. A enfermeira Catiuscia Oliveira contou que o caso de uma paciente, internada e longe dos familiares por 13 dias, e com sinais de depressão, foi preponderante para a iniciativa.

“Verificamos que nesse isolamento, a incerteza, a insegurança e o medo dos pacientes em não verem mais suas famílias, acabam por causar quadros de ansiedade, o que tem impactos significativos na melhora dos internados”, disse a enfermeira.

Catiuscia destaca que diversos estudos realizados no Brasil e no exterior apontam que a saúde mental de pacientes internados é uma questão fundamental para a recuperação.

“Promover esses encontros auxilia diretamente na recuperação dos pacientes, pois o enfrentamento de qualquer doença necessita, essencialmente, de uma visão holística, ou seja de um trabalho humanizado que englobe os aspectos biopsicossociais da pessoa”, avaliou a enfermeira.

Ela também destaca a satisfação dos profissionais ao presenciarem os reencontros.  Nós, profissionais de enfermagem, também precisamos ficar isolados de nossas mães, nossos filhos, companheiros e, portanto, reconhecemos na pele os mal-estares do distanciamento. Presenciar esses encontros, além de todos os benéficos aos pacientes, tem também, de algum modo, nos acalentado”, concluiu Catiuscia.

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