
por Talis Ramon
Durou pouco mais de 24 horas a angústia do funcionário público Zulmar Luis de Fraga, 63 anos, em meio à imensidão da Lagoa do Casamento, em Palmares do Sul. No corpo d’água conectado à Lagoa dos Patos e que faz parte do complexo lagunar do litoral do Rio Grande do Sul, ele e dois amigos permaneceram à deriva após o barco em que eles estavam virar no começo da manhã do domingo (23).
As buscas foram encerradas na manhã desta segunda-feira (24) com a localização do trio. Morador de Balneário Pinhal e servidor da Prefeitura de Palmares do Sul, Zulmar conversou com o portal Litoral na Rede poucas horas após o alívio. Ainda recuperando-se do susto, relatou à reportagem os momentos de tensão vividos desde o momento em que o barco virou até a chegada do resgate.
“Nenhum de nós é pescador, a gente pesca por esporte. Largamos a rede lá no rio e saímos. Recolhemos a rede e saímos 6h [de domingo], acredito eu, rumo a Palmares do Sul. No meio da lagoa pegamos muito vento e a lancha afundou”, relembra.
Sem coletes salva-vidas ou equipamentos de segurança, os três ocupantes da embarcação tiveram que lutar contra a água gelada e o vento forte. O trio permaneceu junto por 11 horas na água, firmando-se no pouco do barco que não havia afundado.

“Estava muito difícil porque nós tínhamos as redes que estavam se enredando no nosso corpo. Então eu peguei uma boinha que tinha, botei no braço e nadei três quilômetros e meio”, conta Zulmar. “Cheguei 20h no outro lado. E fiquei lá na ilha. Foi muito difícil mesmo. Eu sofri a noite toda com mosquito, saí no meio de um banhado. Bati muito com o braço e com as mãos, não tinha força de caminhar”, completa.
Paralelo ao medo de não ser localizado, ele admite que chegou a pensar que os amigos não resistiriam por muito tempo, sobretudo por conta da temperatura da água. Chegou a crer que ambos morreriam por hipotermia, uma vez que ventava muito no local e a água da lagoa estava fria.
“Eu achei que nós três iríamos morrer. E eles também. Eu conversei com eles no hospital, disseram que achavam que eu tinha morrido porque eu abandonei o barco pra tentar chegar até uma ilha. E se eu tivesse ficado, tínhamos morrido os três, porque a lancha não suportaria. O medo de morrer foi muito. Pode acreditar nisso”, garante Zulmar.

Apesar do susto, o funcionário público e seus dois parceiros de pescaria sobreviveram. Os dois companheiros, de 40 e 49 anos, foram localizados por volta das 8h30 da manhã desta segunda. Zulmar, cerca de meia hora depois, foi encontrado por uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS). O trio foi recebido com abraços de amigos e familiares, aplausos de curiosos e celebração pela pescaria frustrada que terminou com final feliz.
Agora, ele afirma que a experiência foi suficiente para mudar sua relação com a pesca. “Não, não vou pescar mais, isso pode ter certeza. Não quero mais saber de pescaria mesmo. Depois desse susto aí, que eu achei que ia morrer, não tem como. Olha, foi por Deus”, finaliza.
Veja imagens do resgate: