A presença de tilápias-do-nilo (Oreochromis niloticus) no mar do Rio Grande do Sul, após as enchentes que assolaram o estado em maio do ano passado, chamou a atenção da comunidade científica. A descoberta foi feita por pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar/UFRGS).
Ao todo, os pesquisadores localizaram 188 exemplares da espécie, um peixe de água doce originário da África. O estudo, liderado pelo biólogo Maurício Tavares, foi recentemente publicado na revista científica Aquatic Ecology, da editora Springer Nature.
A tilápia-do-Nilo é um peixe amplamente cultivado por aquicultores em todo o país. Segundo o biólogo, as fortes chuvas provocaram o transbordamento de criadouros comerciais de tilápias na região, permitindo que os peixes escapassem para a Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí e, em seguida, alcançassem o mar.
“Esse primeiro registro se deu justamente após as cheias. Nunca havíamos visto essa espécie resistindo em ambiente marinho no litoral gaúcho”, afirma Tavares. As tilápias sobreviveram cerca de uma semana em água salgada — algo surpreendente para uma espécie tipicamente de água doce.
Os dados foram coletados durante monitoramentos de rotina realizados desde 2012 pelo Ceclimar, que normalmente acompanha a ocorrência de tetrápodes marinhos — animais evolutivamente ligados a peixes de nadadeiras lobadas.
Alerta
A presença de tilápias-do-nilo em ecossistemas nativos pode gerar desequilíbrios ecológicos e afetar a biodiversidade local. Os pesquisadores recomendam melhorias urgentes nos sistemas de contenção dos criadouros comerciais, além de monitoramento contínuo para evitar novos episódios de fuga de espécies não nativas.
Estudo
O estudo, intitulado Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) em ambientes salobros e marinhos do Estado do Rio Grande do Sul: impacto da tragédia das enchentes de 2024 no Sul do Brasil (tradução livre), revela que o aparecimento dos peixes está diretamente ligado às enchentes que atingiram o estado em maio de 2024.
Além de Maurício Tavares, participaram da pesquisa Joaquim Neves da Silva Ribeiro e Cacinele Mariana da Rocha.
