Os prejuízos da pandemia de covid-19 ao processo de aprendizagem de crianças e adolescentes são evidentes, mas a necessidade de distanciamento e de aulas remotas acelerou um processo que está atrasado no Brasil: o uso da tecnologia para ensinar. Neste período em que escolas particulares, da rede estadual e das redes municipais do Litoral Norte retornam às aulas, com atividades 100% presenciais, um dos grandes desafios é aproveitar o que se construiu nesses anos de dificuldades para professores, alunos e pais.
“As coisas não podem voltar ao normal. Porque não estava normal tecnologia não fazer parte da realidade da escola. Que normal é esse que estamos no século 21 e as escolas não têm internet?”, questiona a advogada e professora Elisiane da Silva, fundadora e diretora do Instituto Educacional Essência do Saber (IEES), com sede em Terra de Areia.
O IEES está atuando na capacitação de mais de 350 professores dos municípios de Terra de Areia e Imbé, em parceria com as prefeituras, para uso de tecnologias digitais. Por meio da Plataforma DIGITVS, os docentes recebem qualificação para utilização de recursos tecnológicos em sala de aula.
O Instituto com sede no Litoral Gaúcho também atua em outras regiões do país. Em parceria com o Sebrae, o IESS está capacitando 528 professores do Distrito Federal com Curso de Especialização em “Proficiência em Tecnologias Digitais para uma Educação Empreendedora”. A instituição ainda é responsável pela gestão dos polos da Unilasalle em Tramandaí e Terra de Areia.
A professora Elisiane defende que a tecnologia precisa fazer parte do processo de aprendizagem de modo a torná-lo mais atraente para as crianças. “A tecnologia e suas ferramentas encantam o meu aluno, as crianças passam horas na internet, porque eu não posso usar a tecnologia para o desenvolvimento de competências?”, ponderou.
A especialista critica ainda a demora no uso de recursos digitais no ensino no Brasil e lamenta que em pleno século XXI ainda há instituições que não têm acesso à internet. “Tem que colocar internet de qualidade, tem que comprar tablets, tem que comprar computadores”, defendeu.
Elisiane também salienta que é preciso compreender que houve uma mudança significativa no perfil dos alunos nas últimas décadas. “Quando eu era criança, 6 anos, eu estava em 1973, se eu interrompesse a conversa do meu pai e da minha mãe, o pai só me olharia e eu sumiria da sala. Hoje, uma criança de dois anos decide onde a família vai almoçar. Nós, quando fazemos educação, temos que pensar qual é o nosso objeto: desenvolver competências cognitivas e emocionais. Se essas crianças não aceitam mais o fica quieto, o olha pra frente, o cala a boca, e a escola não muda, a criança não vai gostar de estudar”, afirmou.
A professora salienta que a tecnologia deve agregar e não substitui o contato direto entre educadores e alunos. Ela considera fundamentais a afetividade e a relação presencial, “olho no olho”, e comemora o retorno da aulas presenciais com o avanço da vacinação.
Outra defesa da diretora do IEES é em relação à necessidade de que não apenas os políticos, mas que toda a sociedade estabeleça a educação como prioridade. “Nós temos um problema que a sociedade nunca colocou a educação como prioridade. A pandemia mudou muito isso, os pais passaram a se preocupar com qualidade e isso deve gerar ação dos políticos”, projetou.