“Não é mimimi, a gente tem que agir”, alertam manifestantes em mobilização após feminicídio em Osório

Protesto pelo fim da violência contra mulheres lembrou crime bárbaro que vitimou Nara Denise dos Santos há uma semana

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Foto: Divulgação / Camila Knack / Arquivo pessoal

por Talis Ramon

Uma semana após o crime que chocou pela frieza e brutalidade, amigos e familiares organizaram uma manifestação em memória de Nara Denise dos Santos, morta e concretada dentro de uma geladeira pelo próprio companheiro em Osório. Entre balões, faixas e pedidos de justiça e atenção aos sinais de violência que possam desencadear novos casos de feminicídio, um grupo de aproximadamente 200 homens e mulheres caminhou por ruas e avenidas da cidade do Litoral Norte na manhã deste sábado (13).

Nara tinha 62 anos e era servidora pública aposentada. Atuou por mais de 20 anos no setor administrativo da Prefeitura de Osório e, em função da forte ligação com causas sociais, ingressou na militância política. Ela concorreu por duas vezes ao cargo de vereadora — a última em 2020, quando fez 108 votos pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Pretendia, inclusive, colocar seu nome à disposição da legenda para as eleições municipais deste ano.

Foi no meio político que Nara conheceu Camila Knack, jornalista e vice-presidente da Ação da Mulher Trabalhista (AMT), movimento ligado à sigla partidária e que participou da organização da manifestação juntamente com outras lideranças comunitárias, políticas e religiosas da cidade. Presente no protesto, Camila conversou com a reportagem do portal Litoral na Rede e lembrou com carinho e saudade da amiga.

“A Nara sempre foi muito partidária, sempre participou muito ativamente [da AMT]. Sempre solidária, sempre querendo ajudar. Uma pessoa de um grande coração”, resumiu Camila. Ela salientou que, apesar do simbolismo em torno do ocorrido com a ex-servidora pública, a manifestação também buscava alertar sobre a importância de lutar pelo fim da violência contra mulheres, uma das bandeiras que Nara carregava durante a vida.

“Ela sempre debateu muito esta questão da violência contra a mulher, do feminicídio. A ideia é conscientizar as pessoas de que não dá para deixar passar. Não é ‘mimimi’. A gente tem que agir quando algum sinal acontece. É uma triste realidade no nosso país que precisa acabar”, acrescentou a jornalista, ressaltando a necessidade de adoção de políticas públicas que atendam mulheres vítimas dos mais variados tipos de violência.

Foto: Divulgação / Camila Knack / Arquivo pessoal

Um familiar de Nara que estava presente no manifesto, mas optou por não se identificar, ratificou as palavras de Camila. Também referindo-se à vítima do crime brutal como uma pessoa amada e querida por todos, destacou que a aposentada mantinha sempre um sorriso no rosto e o hábito de ajudar a todos, sem medir esforços.

“Que a manifestação de hoje sirva de aprendizado e coragem para todas as mulheres, para que elas não sofram nenhum tipo de violência e tenham coragem para denunciar. Só queremos que a justiça seja feita”, pediu o familiar.

Foto: Divulgação / Camila Knack / Arquivo pessoal

Relembre o caso

Na madrugada do último sábado (06), o então marido de Nara procurou a Brigada Militar (BM) de Imbé para denunciar o suposto desaparecimento da companheira. Ao chegar no endereço onde a vítima residia, em Osório, policiais depararam-se com um cenário macabro: o corpo de Nara foi encontrado concretado dentro da geladeira da casa onde ela vivia, no bairro Sul-Brasileiro.

Segundo informações obtidas pelo Litoral na Rede logo após a descoberta, havia muita bagunça e diversas imagens religiosas espalhadas na residência. Ainda no local, o marido da vítima teria confessado aos policiais a autoria do crime e admitiu que estava “possuído por uma entidade maligna” quando matou a vítima.

O homem, que tem 38 anos, foi preso em flagrante pelo crime de feminicídio. O nome dele não foi divulgado.

Nara Denise dos Santos aposentou-se após trabalhar cerca de 20 anos na Prefeitura de Osório. Foto: Divulgação / Arquivo pessoal

Denuncie

A Patrulha Maria da Penha, um dos projetos sociais da Brigada Militar (BM), busca proteger e acolher mulheres e familiares em situação de violência doméstica. O serviço pode ser acionado pelo telefone 190 da BM.

Também é possível denunciar casos de violência contra mulheres pelo Telefone Lilás 0800-541-0803 e pela Central de Atendimento à Mulher, através do número 180.

Em Osório, a comunidade pode denunciar casos de violência doméstica por meio do WhatsApp da Polícia Civil: (51) 99912-0456.

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