Vazamentos de óleo, redes de pesca, ataques de cães domésticos e o descarte irregular de lixo no mar estão entre as principais ameaças às aves, aos repteis e mamíferos marinhos no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. A conclusão é de pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (CECLIMAR) da UFRGS, que registraram 8.550 animais mortos, em quatro anos, no trecho de praia entre os municípios de Palmares do Sul e Torres.
O Litoral na Rede teve acesso com exclusividade aos dados do programa de monitoramento da orla desenvolvido pelo CECLIMAR. No período entre 2012 e 2015, a maior mortalidade foi de aves (7.587), sendo 83% de uma mesma espécie: o pinguim-de-magalhães. Entre os mamíferos foram 523 registros, 67% de lobos marinhos. No grupo dos répteis foram 440 casos, 94% de tartarugas. O pesquisador e biólogo, Maurício Tavares, que coordena o projeto, destaca que “estas informações serão muito importantes para desenvolver a gestão ambiental na região e preservar a fauna marinha”.
A costa do Rio Grande do Sul tem a maior diversidade de espécies registradas em toda a extensão do Atlântico Sul. Na região há um encontro de duas correntes marinhas: a do Brasil, que é quente e pobre em nutrientes e a das Malvinas, que é fria e rica em nutrientes. Esta área conhecida como de convergência subtropical atrai baleias, botos, golfinhos, pinguins, lobos e leões marinhos, além de muitos outros animais. A maioria vem do extremo sul do planeta em busca de alimentos e esta migração ocorre principalmente durante o inverno.
A maioria dos animais encontrados na beira da praia morre por fatores naturais, muitos são jovens e inexperientes e não resistem às longas viagens. É o que acontece, por exemplo, com os pinguins-de-magalhães, que saem das colônias reprodutivas na Costa da Argentina e migram para o Litoral Gaúcho. Mas o biológo Maurício Tavares alerta que causas externas colocam em risco muitas espécies e uma delas é o descarte irregular de lixo no mar. “Tudo o que a gente usa no dia a dia está parando no estomago dos bichos e isso é bem triste”, lamenta o pesquisador.
As tartarugas verdes, mais frequentes durante o verão no Litoral Norte, são as principais vítimas dos resíduos, principalmente plásticos, como sacolas e embalagens. Os animais confundem o lixo com o alimento e morrem após ingeri-lo. Estes répteis também morrem em anzóis e redes de pesca. E as armadilhas para os peixes ainda ferem e matam outras espécies como as toninhas, um tipo de golfinho, cada vez menos visto na região.
Já os vazamentos de óleo de embarcações ou de dutos de petróleo são um risco especialmente para as aves, que com as penas impregnadas tem importantes habilidades, como flutuar, voar e manter a temperatura, comprometidas e acabam não resistindo. O que também chama a atenção dos pesquisadores do CECLIMAR é o aumento de casos de mamíferos marinhos, atacados por animais domésticos. O veterinário da equipe, Derek Blaese de Amorim, apurou que 38% das mortes são causadas por cães. A pesquisa foi realizada em 2012, quando houve elevado registro de mortes de leões e lobos marinhos, que saem do mar para descansar.