Fábrica volta a funcionar após suspeita de intoxicação de funcionários em Santo Antônio da Patrulha

Bombeiros informaram que 19 trabalhadores deram entrada no hospital após incidente ocorrido na sexta

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Fábrica foi liberada para retomar funcionamento após inspeções. Foto: Divulgação / CBM SAP

Uma reação causada pela mistura de produtos químicos pode ter desencadeado uma série de situações que fizeram um grupo de funcionários de uma fábrica de alimentos irem parar no hospital, em Santo Antônio da Patrulha, na noite da última sexta-feira (16). Procurada, a empresa descartou intoxicação coletiva.

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar (CBM), uma equipe foi enviada à fábrica da empresa Da Colônia, localizada na Costa do Miraguaia, por volta das 19h30. Conforme a corporação, a primeira providência das equipes foi evacuar totalmente o local. Os trabalhadores que estavam no local onde houve a confusão foram atendidos pelos bombeiros e por equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que chegaram logo depois.

Segundo os bombeiros, 10 funcionários tiveram que receber atendimento pré-hospitalar e foram encaminhados ao Hospital de Santo Antônio da Patrulha (HSAP) pela viatura de resgate do Corpo de Bombeiros. A corporação informou que 19 trabalhadores deram entrada no hospital, alguns deles removidos pelo SAMU ou pelos seus próprios meios de condução.

Por telefone, o Litoral na Rede conversou, neste domingo (18), com a engenheira química Cíntia Silveira Lopes, responsável técnica e coordenadora da equipe de controle de qualidade da empresa. Ela contraria o relato inicial dos bombeiros de que houve intoxicação de funcionários a partir da inalação de um gás produzido pela reação química provocada pela mistura dos produtos utilizados na higienização da fábrica.

A confusão teria iniciado no momento em que os servidores realizavam a aplicação dos produtos numa espécie de bueiro localizado dentro da área de trabalho da fábrica, que tem cerca de 16 mil metros quadrados. O contato com os produtos teria causado um mau estar em pelo menos duas funcionárias — uma delas asmática, segundo Cíntia. Simultaneamente, uma queda de luz na região derrubou o abastecimento de energia na fábrica, o que, na visão da engenheira química, pode ter colaborado para uma espécie de pânico coletivo.

“No mesmo momento que ela [uma das funcionárias] relatou isso [que estava passando mal], houve uma queda de luz na fábrica. Os funcionários começaram a ficar nervosos. A luz voltou e depois caiu de novo. A menina do lado disse que estava tendo alguma reação também. Foi aí que tomamos a decisão de evacuar a fábrica”, narra a engenheira química.

Os produtos usados no processo, segundo a profissional, foram um detergente alcalino clorado, especialmente formulado para a limpeza de indústrias, e um outro detergente neutro semelhante ao detergente caseiro, indicado para limpeza de pisos, além de hipoclorito de sódio, usado como sanitizante. Ela classifica como impossível a produção de um gás tóxico a partir dessa mistura.

“Tem uma diluição correta. Eles [funcionários] fazem treinamento periodicamente sobre os produtos que usam. A gente não entende o que pode ter acontecido”, explica. “Os produtos químicos são os mesmos há mais de 10 anos, adquiridos do mesmo fornecedor”, complementa Cíntia. Amostras de todos os materiais foram coletadas e enviadas para análise laboratorial.

Cintia conta que não estava na empresa no momento do ocorrido, mas destacou que a Da Colônia trabalha com monitores de qualidade em cada setor, e que o profissional responsável pela área onde iniciou o incidente não relatou qualquer tipo de gás que possa ter causado a intoxicação. Ela reafirma que os procedimentos de higienização dos ambientes de trabalho, equipamentos e todo o sistema de tubulação ocorrem semanalmente, como parte do rígido controle de qualidade que a fábrica mantém.

“O único cheiro que tinha era de esgoto. Eles estavam fazendo uma limpeza bem criteriosa, limpando desde as canaletas até os ralos, passando inclusive pelo telhado”, acrescenta a responsável técnica. “Acho que foi uma crise de pânico. As pessoas ficaram nervosas”, acredita. “Foi uma falta de sorte. Incidentes em sequência. Uma questão de pânico, uma reação em cadeia”, finaliza.

A empresa abriu uma investigação interna para apurar todos os fatos. Nenhum produto ou matéria-prima utilizados na fabricação dos alimentos foi comprometido. A empresa Da Colônia confirma, ainda, que os bombeiros liberaram as atividades na fábrica logo após a apresentação de um laudo técnico e de todas as certificações exigidas para funcionamento.

As duas trabalhadoras passaram a madrugada em observação e receberam alta na manhã de sábado (17). Os outros funcionários que foram atendidos e encaminhados ao hospital foram liberados ainda na sexta. Como o ocorrido se tornou o principal assunto dos corredores da fábrica — chegando inclusive aos familiares dos funcionários, a direção optou por liberar, logo após o incidente, todos os mais de 200 trabalhadores para que passassem o sábado em descanso.

Ainda no sábado, um grupo reduzido de funcionários voltou à sede da fábrica para finalizar os trabalhos de higienização — inclusive com o uso dos mesmos produtos químicos. No domingo as atividades foram retomadas normalmente.

A empresa tentará, nesta segunda (19), junto ao HSAP, ter acesso ao prontuário médico dos funcionários para entender o que foi relatado por eles no momento do atendimento e esclarecer os fatos. Eles também deverão ser ouvidos pelos supervisores. A gestão total do incidente deve ser concluída em cerca de 10 dias.

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