A elucidação das dinâmicas dos crimes, a sua materialização e a identificação de vítimas e criminosos é um serviço que passa diretamente por um trabalho minucioso e fundamental: a perícia. Foi a partir do levantamento pericial realizado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) que a polícia iniciou a investigação da morte de um ciclista, ocorrida na terça-feira (10) em Xangri-Lá.
A ocorrência inicial informava se tratar de um cadáver encontrado, mas, ao observar os danos na bicicleta que estava ao lado do corpo, a perita criminal Carla Cristina Corrêa entendeu que se tratava de um atropelamento.
O trabalho começou no local onde a vítima foi encontrada: na lateral do quilômetro 30 da ERS-389, a Estrada do Mar, a equipe do Posto de Criminalística de Capão da Canoa fez a perícia de local de crime, observando diversos vestígios, como a bicicleta usada pela vítima e as marcas no asfalto. O objetivo do levantamento minucioso era entender se houve atropelamento ou outra situação.
Em seguida, o corpo foi removido para o Posto Médico-Legal de Osório, onde o perito médico-legista fez a necropsia — procedimento que determina a causa da morte. Mas ainda faltava saber quem era a vítima. Por isso, ainda no local, foram coletadas as impressões digitais do homem.
Foi este material, levado ao Posto de Identificação do IGP em Osório, que um papiloscopista — profissional especializado na análise de impressões digitais — comparou com os dados do banco de impressões digitais do Estado, conseguindo fazer a identificação de Michael Shein Nunes, de 36 anos, encerrando, com sucesso e em poucas horas, a primeira parte do trabalho do IGP no caso.
O próximo passo, então, foi buscar entender o que, ou quem, causou a morte de Michael. Uma pista importante foi recolhida em meio ao matagal onde o corpo foi encontrado: uma placa de carro amassada, que foi recolhida. A Polícia Civil (PC) localizou o endereço do proprietário e recolheu o veículo, um Renault Megane, que estava sem a placa dianteira.
Foi aí que a segunda parte dos trabalhos periciais teve início: a análise do automóvel do suspeito de ter atropelado Michael. O homem se entregou à polícia durante a tarde, acompanhado de um advogado, e permaneceu em silêncio.
Veículo e bicicleta passaram por perícia. Juntamente com a equipe dos servidores do IGP na Operação RS Verão Total, a perita procurou identificar marcas e outros sinais que pudessem comprovar a participação do carro no atropelamento. “A placa coletada no local se encaixa no veículo e as avarias no carro fecham com as da bicicleta”, afirma Carla.
Também foram recolhidas amostras de tinta e material genético no veículo e na bicicleta, que vão ser comparadas com o objetivo de revelar se o material da vítima estava no Mégane. Da mesma forma, outra análise poderá apontar se a tinta da bicicleta é a mesma coletada no veículo, e vice versa.
Essas perícias serão feitas no Departamento de Perícias Laboratoriais. Assim, o trabalho da instituição vai permitir a identificar a autoria do crime e a dinâmica do acidente, que deve constar no Laudo que vai ser entregue nos próximos dias. “Foi um trabalho que envolveu todos os departamentos do IGP, e com resultados rapidíssimos”, completa Carla.
A coleta de informações e a avaliação de todos os objetos encontrados no local do crime, assim como a identificação da vítima, é o que vai permitir identificar a autoria do crime e, mais que isso, a dinâmica do acidente.
O relatório final deve ser apresentado à Polícia Civil nos próximos dias.