“Confundiram pó pelotense com droga”, diz prefeito afastado por suspeita de corrupção

Político é investigado por participação em esquema envolvendo licitações

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MP apura possíveis fraudes em processos de licitação no município. Foto: Divulgação / MP-RS

Alvo de uma operação do Ministério Público (MP) que apura possíveis fraudes em licitações no município de Cachoeira do Sul, na Região Central, na última quinta-feira (28), o prefeito José Otávio Germano (PP) tinha uma pequena porção de cocaína em casa, de acordo com o MP e a Polícia Civil (PC). Em nota, o político alegou que a substância encontrada era, na verdade, um talco antisséptico.

Germano e outros oito funcionários da Prefeitura de Cachoeira do Sul foram afastados de maneira cautelar pelo período de 180 dias, atendendo determinação judicial que analisou os indícios apontados pelas investigações. Segundo o procurador-geral do MP-RS, Alexandre Saltz, existem indícios muito fortes de irregularidades.

“As investigações preliminares apontam que havia um ajuste entre as empresas contratadas e administradores locais no sentido de receber parcelas derivadas dessas licitações, valores esses que eram utilizados no custeio de despesas pessoais de administradores”, revela Saltz.

Batizada de Operação Fandango, a ação cumpriu ordens judiciais na sede do governo municipal e das secretarias de Admnistração e Fazenda, Interior e Transportes, Meio Ambiente e Obras, além das residências de agentes públicos, como José Otávio Germano, agentes privados e empresários. Documentos e equipamentos eletrônicos foram recolhidos durante a operação, além de documentos que serão analisados e, a partir do relatório que será produzido, poderão gerar denúncia à Justiça.

Sobre os empresários, o MP informou que eles estão proibidos de exercer direta ou indiretamente qualquer atividade de natureza econômica ou financeira com o Poder Público, além de terem suspensos os contratos que haviam firmado com a prefeitura.

Pó pelotense

Nesta sexta-feira (29), o prefeito José Otávio Germano divulgou uma nota oficial onde negou as acusações. Se dizendo triste, violentado e alegando perseguição, o político questionou a maneira como foi abordado pelos agentes na manhã de quinta.

“Fui acordado violentamente na minha casa, com a quebra da porta, com revólver em punho. Cerca de dez policiais e uma promotora. Estava dormindo sozinho em casa. Procuravam computadores (não tenho em casa). Procuravam cofre (não tenho em casa e nem em lugar algum). Procuravam armas (não tenho nenhuma). Me perguntavam onde estava o dinheiro. Não tinha nada em casa”, afirmou.

Sobre a droga que MP e PC disseram ter localizado no imóvel onde dormia, o prefeito se tratar de Pó Pelotense, uma marca de talco com propriedades antissépticas, absorventes e secativas, indicado no tratamento de eczemas, intertrigos, queimaduras, assaduras, brotoejas e irritações superficiais da pele.

“Procuraram droga. E confundiram pó pelotense com droga, pois utilizo em minhas feridas e assaduras por recomendação médica. Pedi para fazerem o teste ou algo do tipo e não quiseram fazer. Já saíram me acusando. Ao lado de onde eles encontraram a suposta droga que eles falam, estavam os potes dos pós pelotenses, o que comprova que nunca teve droga alguma”, defendeu-se.

José Otávio Germano, prefeito de Cachoeira do Sul. Foto: Divulgação / PMCS

José Otávio Germano foi vereador, deputado estadual por duas vezes, presidente da Assembleia Legislativa, ministro dos Esportes e deputado federal por quatro mandatos. Ele afirma não ter tido acesso ao processo, mencionou a extensa carreira política e classificou a operação como “política e midiática”.

“Não preciso ler [o processo] para me manifestar. Não existe nenhum ato meu, enquanto prefeito, que incorra em qualquer ilegalidade (corrupção, roubo, favorecimento, rachadinha e etc). Se uma só pessoa disser que exige vantagens enquanto prefeito, eu renuncio meu mandato imediatamente”, garantiu. “Os cachoeirenses me conhecem há 60 anos. Minha história de vida é pública. Minha consciência está tranquila.
A dor no coração, não sei se passa. Mas sei que a verdade dos fatos virá à tona rapidamente”, completou.

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