Aumento da verticalização de prédios reacende temor de sombreamento na beira-mar de Torres

Alterações no Plano Diretor do município serão debatidas em audiência pública que acontecerá nesta terça

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Praia Grande, em Torres. Foto: Divulgação / Prefeitura de Torres

Considerada a mais bela praia do Rio Grande do Sul, Torres está novamente envolvida na polêmica que aborda o impacto da construção civil nos cenários da natureza que compõe os principais pontos turísticos da cidade. Na próxima terça-feira (26), a cidade se volta para uma audiência pública que tratará de alterações no Plano Diretor que impactarão diretamente no tema.

Pacto social que define os instrumentos de planejamento urbano para reorganizar os espaços da cidade e garantir a melhoria da qualidade de vida da população, o Plano Diretor de Torres foi sancionado em 1995 e foi alvo de diversas discussões ao longo dos últimos anos.

A atual proposta de alteração cita, entre outros pontos, a liberação para ampliação do tamanho vertical de edificações na Zona 8, como é definida a orla da Praia Grande no projeto. A versão atual do plano permite construções de até três pavimentos, ou seja, 9 metros, mais 4,5 metros para a caixa d’água. Se aprovada, a alteração ampliará a permissão para 15 metros (cinco andares), além do espaço destinado a reservatórios.

Entre os riscos apontados por quem é contra a proposta estão a diminuição da ventilação natural e o consequente aumento de temperatura em até 4°C. O aumento do nível de umidade no entorno dos prédios – e, por consequência, a maior probabilidade de proliferação de mosquitos – e a projeção de sombras sobre as residências vizinhas, o calçadão e a faixa de areia também são citados. Para além da faixa de areia, aliás, impera o temor de que o sombreamento possa comprometer o ecossistema e o uso do ambiente para recreação, comércio e turismo.

“Meio-dia não vai ter sol no calçadão”, teme surfista

Um abaixo-assinado online, intitulado “Diga não às torres de concreto”, já colheu mais de 20 mil assinaturas contrárias à aprovação da alteração. A petição pede que sejam considerados alguns impactos negativos diretos e indiretos da verticalização na orla das praias.

Criador do manifesto, o surfista Marcel De Rose conversou com o Litoral na Rede neste domingo (24) e disse temer que a verticalização da área próxima à praia tire a qualidade de vida da cidade não apenas no verão. “A gente sabe que no verão pode ter 100 andares que não vai fazer sombra na praia, pois a posição solar é outra. Mas hoje em dia, no inverno, em dias quentes que as pessoas disfrutam do calçadão, às 16h já tem sombra. Com a permissão de quase 18 metros, às 13h já não vai ter sol no calçadão. Isso vai trazer umidade, sombra, frio e tirar qualidade de vida da nossa cidade”, alerta De Rose.

Ele esclarece que não é contra a construção civil, setor que contribui historicamente para o desenvolvimento da cidade através da geração de emprego e renda. Mas reafirma que a insistência na proposta pode abrir precedente para aumento da altura de edificações na beira-mar. “Há outras áreas para crescer. O centro da cidade, por exemplo, é baixo. Poderia aumentar os índices de altura lá e preservar a beira-mar, a beira da lagoa, o Parque da Itapeva, a beira do Rio Mampituba, não descaracterizando a questão geográfica e histórica da cidade”, pondera Marcel. “Quem ama Torres, preserva. A gente pensa numa Torres para a vida toda. Nos tornamos uma cidade grande. E a gente pode crescer respeitando o meio ambiente. É só isso que a gente gostaria”, finaliza.

Charge ironiza suposta ganância de quem defende aumento das construções verticais. Arte: Roberto de Freitas

Comparação com Balneário Camboriú não cabe, diz prefeitura

Apelidada de “Dubai brasileira” pela imponente presença de prédios gigantescos, a cidade catarinense de Balneário Camboriú viveu polêmica semelhante ao longo dos últimos anos. Além do impacto ambiental, a construção desenfreada de grandes edificações nas proximidades da orla, aliada à sombra projetada na faixa de areia, praticamente bloqueando o sol para banhistas a partir do início da tarde, sempre foi alvo de críticas.

Ouvida pelo Litoral na Rede, a secretária do Meio Ambiente e Urbanismo de Torres, Fernanda Brocca, revela que a prefeitura realizou um estudo de sombreamento que será apresentado na audiência pública. “Não há de se comparar com Balneário Camboriú, já que lá a altura média é superior a 100 metros”, frisa a bióloga.

Inicialmente prevista para acontecer no mês passado, a audiência pública promovida pela prefeitura será aberta à participação de moradores, veranistas e turistas, e acontecerá no Centro de Eventos da Ulbra, na Rua Universitária, nº 1900, a partir das 19h.

Uma alternativa para quem não puder comparecer é acompanhar o evento pela internet. A Prefeitura de Torres anuncia a transmissão da audiência pública ao vivo, com som e imagem, pelo seu canal no YouTube e nas suas redes sociais.

Na participação presencial, poderão se inscrever para os debates públicos as entidades governamentais, classistas, sindicais, setoriais, comunitárias e outras, devidamente instituídas e com domicílio no município de Torres.

A entrada no local do evento será livre e respeitará a ocupação máxima do espaço. As manifestações individuais poderão ter até três minutos. Os apontamentos que surgirem nos debates serão registrados em ata para encaminhamento à comissão que conduz os trabalhos.

As inscrições poderão ser efetuadas na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Urbanismo, situada na sede administrativa da Prefeitura, na Rua José Antônio Picoral, n° 79, através do e-mail meioambiente@torres.rs.gov.br ou ainda no dia e local da audiência, até às 19h, respeitando a ordem cronológica. A ficha de inscrição, que deve ser preenchida e entregue pessoalmente ou por e-mail, está disponível clicando aqui.

O novo zoneamento proposto para 2022, bem como a nova minuta da lei proposta em discussão na audiência pública do dia 26 de julho, também podem ser acessadas no site do governo de Torres.

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