Um Brasil que envelhece, políticas públicas são necessárias

Redução de nascimentos e aumento da expectativa de vida mudaram a pirâmide etária do país, inclusive do Litoral Norte; Por Tatiane de Sousa - Jornalista

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Imagem meramente ilustrativa

Longevidade e vida boa. Essa seria a fórmula da felicidade para muita gente principalmente se acrescida pela brisa da praia e o sussurro das ondas. Dados trazidos no último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), apresentam um envelhecimento da população brasileira.

Em 1980, o Brasil tinha 6,1% dos habitantes com 60 anos ou mais de idade. Já em 2022, esse grupo etário representou 15,8% da população total. Esse é um crescimento de 46,6% em relação ao Censo Demográfico 2010, quando idosos eram 10,8% da população. No outro extremo da pirâmide etária, o percentual de crianças de até 14 anos de idade, que era de 38,2% em 1980, passou a 19,8% em 2022.

Esse envelhecimento se explica pela queda da fecundidade e pelo aumento da expectativa de vida no País. O geógrafo, professor do Departamento Interdisciplinar do Campus Litoral Norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CLN/UFRGS), Ricardo Dagnino, explica que cada mulher hoje tem cerca de 2,1 filhos, enquanto nas décadas de 50/60, eram de 5 ou 6 crianças. O número de nascimentos não repõe o número de óbitos e, além disso, as pessoas estão vivendo mais.

“O aumento da expectativa de vida também está relacionado às crianças porque um dos fatores que faz aumentar os anos vividos é a redução da taxa de mortalidade infantil. Havia muitas crianças morrendo de 0 a 5 anos. Com campanhas e avanços na área médica, isso já não ocorre com tanta frequência”.

As Regiões Sudeste e Sul são aquelas que apresentam estruturas mais envelhecidas do País. Enquanto no Brasil a população idosa chega a 15,8% do total de habitantes, no Rio Grande do Sul chega a 20,2%. O parâmetro usado pela pesquisa do IBGE para medir o índice de envelhecimento, aponta que no RS a população de pessoas idosas passou da metade da população de jovens sendo que a idade mediana é de 38 anos.

O estudo População Idosa do RS – 2010-2021, produzido pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), sobre o período de 2010 e 2021, mostra que o índice de envelhecimento da população no Estado teve crescimento de 74%.

Em 2010, para cada cem pessoas com até 15 anos de idade, viviam no Estado 43 habitantes com 65 anos ou mais, enquanto em 2021 a proporção passou a ser de 75. Para 2060, a estimativa é de que para cada cem moradores do Rio Grande do Sul com menos de 15 anos haja 207 habitantes com 65 anos ou mais.

Outra particularidade registrada no RS é a emigração de jovens o que pode resultar também no envelhecimento da população. “Temos uma mão de obra de jovens e adultos que saem do Estado para buscar empregos enquanto ficam os mais velhos e as crianças, ou seja, saem os que estão em idade reprodutiva e que trabalham, mas é importante observar que o processo de envelhecimento do Estado não é homogêneo”, explica Ricardo Dagnino.

Litoral Norte

No Litoral Norte gaúcho há renovação no número de jovens porque a queda de fecundidade ainda não é tão expressiva, mas também é possível observar o envelhecimento populacional. Muitas pessoas que tinham casas de veraneio agora são residentes. Essa situação exige políticas públicas adequadas além de influenciar na questão econômica das cidades. Não se pode menosprezar o poder de compra dessa faixa etária, mas também é preciso um olhar para as necessidades.

O professor da UFRGS alerta que é preciso ficar atento aos mitos criados sobre esse movimento migratório de pessoas com mais de 60 anos para as praias. Ele aponta como referência um estudo realizado pelo Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”, da Unicamp, sobre o crescimento populacional na Baixada Santista, no Litoral de São Paulo. “Apesar de a região apresentar crescimento populacional isso não se refletiu na base econômica porque as faixas etárias que cresceram não são as em idade produtiva”.

Veja a pirâmide etária de algumas cidades do litoral norte gaúcho apresentada no último Censo pelo IBGE: outras cidades em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/

Tramandaí:

Capão da Canoa:

Torres:

Políticas públicas

A mudança do ciclo de vida da população brasileira, apresenta o desafio de geração de ações que sejam capazes de impactar de forma eficiente na sustentabilidade das pessoas e das cidades. O professor Dagnino ressalta que o resultado demonstrado no Censo não surpreende e essa já era uma tendência esperada sobretudo porque esse fenômeno já aconteceu em muitos lugares do mundo, inclusive da América Latina.

“Priorizar questões ligadas a educação e formação profissional investindo nos jovens em idade produtiva é a melhor forma de estimular a geração de renda e posteriormente a distribuição per capita adequada. Essa adequação é fundamental para que a classe produtiva possa sustentar as pessoas que já estão fora do mercado de trabalho. Essa é a preocupação em todo mundo com a questão da saúde e previdência”.

Especialistas ainda apontam a necessidade de outras medidas como tornar o ambiente mais adequado a gestação mais segura, além de assegurar que as mulheres possam optar, se quiserem, por terem mais filhos. Alguns países aumentaram o tempo de licença-maternidade e paternidade, vagas em escolas de educação infantil, campanhas de alimentação saudável e pré-natal.

Para a idade produtiva o investimento deve ser em escolarização e aumento de postos de trabalho.

Por fim, para um envelhecimento com menos problemas, as cidades precisam pensar em infraestrutura para que idosos não sejam encarados como um peso social. Nesse caso, são recomendadas políticas de prevenção com adequação de saneamento, mobilidade, saúde pública e assistida, com uma inserção social que vá além das barreiras culturais do etarismo comum nas sociedades ocidentais.

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