Trabalho e Saúde Mental: Está na hora de repensar a escala 6×1?

Por Juliana Ramiro, psicanalista

Compartilhe

Imagem meramente ilustrativa. Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O adoecimento psíquico no trabalho se tornou uma realidade alarmante no Brasil. Os Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho (TMRT) já são a terceira maior causa de afastamento no país, segundo pesquisas recentes, e os números só crescem. O que isso nos diz sobre a forma como estamos trabalhando? Será que existe uma maneira mais saudável de equilibrar a necessidade do trabalho com a saúde mental?

Há alguns anos o trabalho era como um sinônimo de saúde mental. Como está o fulano? Bem. Está trabalhando, estudando, namorando. Nos últimos anos, mesmo com todos os avanços tecnológicos, que poderiam conduzir a um cenário de maior produtividade, sem tanto sacrifício da mão de obra, o trabalho deixou de ser esse sinônimo de saúde e passou a ser uma das principais causas de adoecimento psíquico das pessoas.

Vivemos tempos de relações cada vez mais tóxicas, e isso também reflete no ambiente profissional. Baixos salários, metas inalcançáveis, excesso de pressão e assédio moral são parte da rotina de muitos trabalhadores. Além disso, há uma tendência global de retirada de direitos trabalhistas e previdenciários, tornando a realidade ainda mais dura.

Um dos pontos que vêm sendo questionados é a escala 6×1, que exige seis dias de trabalho para um único dia de descanso. Estudos indicam que o excesso de horas em um ambiente profissional hostil reduz a qualidade de vida e aumenta os níveis de estresse, ansiedade e depressão. O trabalhador passa menos tempo com a família, tem dificuldades em manter hábitos saudáveis e perde momentos de lazer e convívio social — fatores fundamentais para a saúde mental e emocional.

Se toda a energia de um indivíduo é consumida pelo trabalho, e esse ambiente é cada vez mais exaustivo, as chances de adoecimento são altíssimas. O que podemos fazer para mudar isso?

Se olharmos para alguns exemplos internacionais, veremos que trabalhadores submetidos a jornadas menores são mais produtivos. Reduzir a carga horária não significa menos eficiência — pelo contrário, um profissional descansado, emocionalmente abastecido e valorizado produz melhor e adoece menos.

Embora o sistema capitalista demande produtividade, o adoecimento dos trabalhadores também prejudica as empresas e a economia como um todo. Talvez a saída não esteja na precarização da mão de obra, mas na construção de um modelo de trabalho mais equilibrado, no qual o empregado ganha qualidade de vida e o empregador ganha em produtividade.

No episódio do Psi Por Aí desta semana, para aprofundar essa discussão, conversei com Guiomar Vidor, presidente da CTB-RS (Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do RS) e da Fecosul (Federação dos Empregados no Comércio de Bens e Serviços no Estado do RS). Juntos, refletimos sobre os desafios e caminhos possíveis para tornar o trabalho menos adoecedor e mais sustentável.


Ouça no Spotify

  • Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura. E-mail: admin@julianaramiro.com.br

Compartilhe

Postagens Relacionadas