Precisamos falar para além da “Baleia Azul”

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Nos últimos dias nossas casas foram invadidas com a estrondosa notícia do jogo “Baleia Azul”, que se trata de uma série de 50 desafios diários, que coloca os participantes em situações de risco e cujo ápice é o suicídio. Acredita-se que sua origem tenha se dado na Rússia e se disseminado no Brasil recentemente. O jogo é enviado para crianças e adolescentes através das redes sociais, por um denominado “curador”. As tarefas variam sua intensidade e gravidade, chegando a comportamentos de automutilação, autoagressão até o suicídio.

Ainda que a adolescência seja uma linda fase do desenvolvimento humano, também pode ser fonte de sofrimento, visto que circunstancialmente é uma fase de muitas mudanças, conflitos psíquicos internos e fragilidade emocional. A depressão é um problema mundial de saúde pública e tema central da campanha do Dia Mundial da Saúde em 2017, da Organização Mundial de Saúde. Na infância e adolescência a depressão pode apresentar características diferentes dos adultos, por isso, precisamos estar atentos a comportamentos de isolamento social; perda de interesse em atividades que antes gostava; irritabilidade ou crises de raiva; pessimismo ou desesperança; mudança nos hábitos alimentares; alteração no padrão de sono, seja por excesso ou ausência/dificuldade; comentários sobre morte e tragédias, vontade de morrer/desaparecer; perda de interesse nas pessoas; comportamentos autodestrutivos ou de automutilação; mudança no desempenho escolar; sentimentos de culpa; cansaço excessivo, dificuldade de concentração e desatenção. Em relação ao jogo “Baleia Azul”, acrescenta-se a necessidade de observar outros fatores, como comportamentos fora do padrão normal do jovem; braços, pernas, palma das mãos ou lábios cortados; interesse repentino por filmes de terror; atividades no meio da madrugada; ficar calado por um longo período ou todo o dia.

A grande verdade é que o tema em questão retrata uma realidade mais antiga, mas muito velada e pouco falada na população geral: a depressão e o suicídio entre crianças e adolescentes. Para além do Desafio da “Baleia Azul”, esse momento serve para nos alertar e conscientizar da necessidade de discutir e difundir mais a informação sobre a saúde mental dos nossos jovens e crianças. Precisamos estar atentos, oferecer um espaço de escuta às necessidades trazidas por eles, aceitá-los como são e não como queremos que sejam.  O diálogo aberto, o acolhimento e a relação de confiança são ferramentas fundamentais para prevenir a depressão, comportamentos autodestrutivos e até o suicídio.
*Psicóloga, especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital Moinhos de Vento e em Terapia Individual, de Casais e Famílias pelo Instituto da Família de Porto Alegre.
Atende em Tramandaí na Clínica Essencial Saúde, em Capão da Canoa e em Porto Alegre. 

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