Quem costuma caminhar pela praia tem observado muitos pinguins mortos na faixa de areia do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. E a elevada mortandade desses animais nas últimas semanas é confirmada por pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar/UFRGS), que realizam o monitoramento semanal da orla, entre Dunas Altas, em Palmares do Sul, e Itapeva, em Torres.
Em três semanas, entre os dias 18 de outubro e 4 de novembro, os biólogos identificaram 713 carcaças na areia, sendo 441 apenas nos primeiros quatros dias deste mês. Entre Imbé e Torres, a média foi de cinco pinguins mortos a cada quilômetro. Já entre Tramandaí e Quintão, a média foi maior, de oito carcaças por quilômetro.
Esses animais são da espécie pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus), que migram da Patagônia, na Argentina, onde se reproduzem, para a costa brasileira, em busca de alimentos. A presença desses visitantes na região Sul do Brasil é mais comum durante o inverno. O coordenador do monitoramento e biólogo do Ceclimar, Maurício Tavares, observa que, neste ano, a maior quantidade de encalhes está ocorrendo mais tarde.
“No inverno, havia encalhes de pinguins, mas não registramos nenhum pico de mortalidade grande, o que quase sempre ocorre nesse período. Na primavera, a gente tem um pico menor, mas neste ano, o pico grande ficou deslocado para a primavera”, explicou o pesquisador.
O biólogo também pontua que não há anormalidade em relação às mortes de pinguins em comparação com a média registrada, de aproximadamente 1.000 por ano na área monitorada no Litoral Norte. Também aponta que não há indícios de algum tipo de fator diferenciado para a mortandade.
“Essas 713 carcaças de pinguins, contabilizadas nos últimos monitoramentos, eram todas de animais jovens, com plumagem juvenil de primeiro ano de vida, sem nenhum indício de interação com pesca ou contaminação por derivados de petróleo, ou seja, todos indicando o padrão de mortalidade natural que ocorre todos os anos por seleção natural”, disse Maurício Tavares ao Litoral na Rede.
O pesquisador também explicou que as carcaças encontradas na praia são marcadas para que não sejam contabilizadas mais de uma vez. A equipe que faz o monitoramento usa uma tinta spray atóxica na cor azul para indicar cada animal que já foi registrado. “Essa não é contabilizada novamente para não superestimar o total de pinguins encontrados mortos ao longo do ano”, esclareceu.
Como funciona o monitoramento
A equipe do Ceclimar UFRGS realiza monitoramento semanal da orla para identificar a presença de animais marinhos na faixa de areia. Em uma semana, eles percorrem cerca de 80 quilômetros de Imbé a Torres. Na outra, são aproximadamente 50 quilômetros pela praia entre Tramandaí e Dunas Altas.
Esse trabalho é realizado desde 2012 e foi suspenso nos anos de 2020 e 2021 devido à pandemia de covid-19. Além dos pinguins, os pesquisadores contabilizam carcaças de outros animais marinhos, como tartarugas, lobos-marinhos e golfinhos.
Em relação aos pinguins, o maior número de animais mortos foi identificado em 2014, 2.331 carcaças contabilizadas. Logo depois, aparecem os anos de 2013, com 1.782, e de 2017, com 1.712.
Número de pinguins mortos por ano
O biólogo Maurício Tavares informou que o monitoramento será mantido e não descarta que novembro de 2022 possa superar agosto de 2014, quando houve o recorde de 1.425 pinguins mortos em único mês na região.
Para quem quiser colaborar com o projeto, o Ceclimar disponibiliza canais para que as pessoas possam informar sobre a presença de animais marinhos nas praias. Os relatos e fotos podem ser encaminhados para o e-mail fauna_marinha@ufrgs.br, ou pelas redes sociais @mucin_ufrgs, @ceclimar_ufrgs e @faunamarinhars.