Depois de um pausa devido às restrições da pandemia, o projeto de monitoramento da orla, realizado por pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (CECLIMAR), do Campus Litoral Norte (CLN) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi retomado em 2022. No ano passado, os cientistas percorreram quase 1.200 quilômetros de praia, em 20 saídas de campo, entre os municípios de Palmares do Sul e Torres.
O objetivo é acompanhar o padrão de ocorrência e de encalhes de espécies de animais residentes e migratórias. Entre abril e dezembro, eles identificaram 3.062 mortos nas praias. A espécie com maior incidência, no período, foi o pinguim-de-magalhães, com 2.105 encalhes, seguido da ave bobo-pequeno (182), da tartaruga-cabeçuda (106) e do lobo-marinho-sul-americano (88).
O projeto é realizado desde 2012. Em uma década, foram computados 12.401 pinguins mortos, 1.470 tartarugas-cabeçudas, 872 aves bobo-pequeno e 872 lobos-marinhos. O coordenador do monitoramento, biólogo Maurício Tavares, explica que, entre as espécies com maior número de encalhes, há incidência expressiva de animais que tem morte natural.
“As pessoas tendem sempre a querer jogar para a parte antrópica (ação do homem) e, no caso, o que puxa esses números pra cima são os pinguins e os lobos, que são os animais que, justamente, tem mais relação com mortalidade natural do que captura acidental, que é o caso das tartarugas e toninhas”, explicou o pesquisador do Ceclimar.
O ano de 2022 foi, em dez anos, o segundo em número de encalhes identificados pelo monitoramento, quantidade muito próximo a 2017, quando houve 3.073. O número chama a atenção porque os pesquisadores realizaram menos ações de campo do que nos períodos anteriores.
“Esse ano passado, a gente percorreu menos quilômetros em relação aos outros anos. O ano passado teve realmente um encalhe maior de pinguins. Tem alguns anos que a gente tem uma mortalidade maior, o que pode ter relações com as presas, com o clima”, explicou Tavares.
Painel
Os dados de uma década de monitoramento, que são usados em outras pesquisas sobre a fauna marinha, agora também estão disponíveis a toda a população. O Ceclimar lançou um painel com todas as informações de encalhes. As consultas podem ser feitas por ano e por cidade do Litoral Norte. O sistema também disponibiliza informações detalhadas sobre as 10 espécies com maior mortalidade nas praias da região.
A ferramenta foi desenvolvida pelo analista de tecnologia da informação do CLN/UFRGS, André Luís Kunzler D’arrigo, em colaboração com o coordenador do projeto, o biólogo Maurício Tavares.
“Os dados constantes no painel já foram utilizados em trabalhos de conclusão de curso, mestrados e doutorados, tendo gerados várias publicações científicas. A ideia é que o painel sirva para gestores públicos, instituições e entidades que necessitem acessar essas informações de maneira prática e de fácil visualização”, pontuou o pesquisador.
O painel com todos os dados pode ser acessado clicando neste link.
O Monitoramento
O monitoramento é realizado entre as localidades de Itapeva em Torres e Dunas Altas em Palmares do Sul, abrangendo cerca de 130 km de praias. Este trecho é dividido em duas áreas, uma que se estende de Imbé a Torres (80 km) e outra que se estende de Tramandaí a Palmares do Sul (50 km). A cada semana, uma das áreas é monitorada com veículo institucional e todos os animais tetrápodes (aves, mamíferos e répteis) encontrados mortos são contabilizados pela equipe.
A equipe é composta por servidores do Ceclimar, com suporte de alunos do curso de Biologia Marinha e esporadicamente docentes do curso. O trabalho é realizado durante todos os meses do ano.