por Rafael Ribeiro e Ticiano Kessler
Sem esquecer a tragédia de junho de 2023, que arrastou a residência inteira, um casal de idosos conta com a ajuda de familiares e amigos para retomar a vida em Caraá. O aposentado Darcy Sant’Ana, de 73 anos, e a dona de casa Maria Nazaret Sant’Ana, de 67, estão entre as dezenas de famílias do município do Litoral Norte que perderam as moradias com o fenômeno meteorológico extremo que atingiu a região entre os dias 15 e 16 de junho do ano passado.
A casa onde eles viviam há 10 anos, na Prainha dos Fernandes, um dos pontos mais afetados de Caraá, foi arrastada pela enxurrada. O carro de Darcy ficou no terreno vazio depois que a inundação baixou, mas também foi perdido. Um ano depois, o trauma da inundação e do resgate dramático se mistura com o desejo de voltar para a lugar que escolheram para viver.
“Me tiraram primeiro por causa do meu problema. O senhor levou o meu oxigênio e, mais dois, um em cada lado, me arrastando daqui até a casa da esquina ali com a água por aqui”, disse Maria Nazaret, apontando para o peito, ao lembrar que os vizinhos que a resgataram tentaram, sem sucesso, transportá-la sentada em uma cadeira: “Estava muito forte a correnteza, daí botaram a cadeira. [Eu disse] deixa a cadeira ir embora, me botem no chão, só me segurem que eu vou”, recordou.
Logo depois, os vizinhos retornaram para ajudar Darcy a sair da casa já inundada. “Só separava o nariz e a boca”, lembrou o aposentado sobre a altura da água quando foi retirado da residência. “Até tentamos não lembrar muito porque a gente numa certa idade é mais afetado”, falou sobre os momentos de apreensão.
A reportagem do Litoral na Rede encontrou Darcy e Maria Nazaret na casa de um vizinho, na mesma rua onde eles viviam até a passagem do ciclone. Eles estavam na cidade para acompanhar o andamento da construção de uma nova casa, erguida no lugar da que foi arrastada pela correnteza.
Com as paredes já prontas, um dos filhos do casal e um amigo davam continuidade à obra. Ainda faltavam pisos, portas e janelas. A dona de casa, que tem doença pulmonar crônica e depende de oxigenoterapia domiciliar, se desconectou do aparelho por alguns minutos para atravessar a rua e ir, junto com o marido e a nossa equipe, até a nova casa.
“Tanto eu como meu esposo amamos muito esse lugar e pretendemos nos fixar aqui de novo, não vamos perder esperança de voltar”, afirmou ela. A expectativa é comemorar os 50 anos de casados, em outubro, já na casa nova. “A esperança que a gente tem é de aprontar logo a nossa casinha pra gente voltar. A saudade é grande”, afirmou Darcy.
Desde a tragédia, eles vivem junto com um dos filhos em Viamão, na Grande Porto Alegre. Apenas com a aposentadoria de Darcy, já que Maria Narazeth não tem o benefício, sabiam que não seria fácil reerguer a residência. Foi com apoio de amigos e familiares e a confiança de comerciantes de Caraá que eles iniciaram a retomada.
“Eu agradeço a todos os amigos, meus filhos, todos, que de uma forma ou de outra estão fazendo aqui de graça. Não estão cobrando nada de nós. Ganhamos cimento, ganhamos um monte de coisa. Na madeireira também demos um pouquinho que nós tínhamos e vamos pagar o resto em prestação. É uma luta, mas estamos conseguindo”, comemorou a dona de casal.
O casal conta que não fez qualquer tipo de cadastro em programas habitacionais dos governos para afetados pelo ciclone. Na cidade de Caraá aproximadamente 40 famílias que também perderam as casas na inundação esperam a construção de moradias pelo poder público.
Neste domingo (30), uma nova reportagem sobre a situação da cidade de Caraá, produzida pelo portal Litoral na Rede, mostrará os desafios do município para garantir habitação aos afetados pelo ciclone de 2023, manter estradas, enfrentar uma série de inundações e ainda tentar investir em medidas de prevenção e alerta para fenômenos meteorológicos.
