Mulheres esperam mais de seis meses por resultado de exame preventivo de câncer no Litoral

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Pelo menos 5,5 mil mulheres aguardam, por até seis meses, resultado do exame preventivo do câncer do colo do útero no Litoral Norte. Imagem ilustrativa

Um impasse entre a Secretaria Estadual da Saúde (SES) e o laboratório contratado para fazer a análise do material coletado no exame preventivo do câncer do colo do útero no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, causa apreensão em milhares de mulheres na região. Apenas em Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa, Torres e Santo Antônio da Patrulha, mais de 5.500 pacientes aguardam pelos resultados, conforme levantamento feito pelo Litoral na Rede junto às secretarias da Saúde desses municípios.

As amostras estão retidas no Laboratório Cito, de Osório, que não estaria recebendo os pagamentos da SES. O secretário da Saúde de Tramandaí, Luciano Saltiel, informou que o impasse foi discutido em reunião com representantes de todo o Litoral, da 18ª Coordenadoria Regional de Saúde e do laboratório.

“Nós fizemos uma reunião, todos os secretários da região com o laboratório e, naquele momento, o Estado, representado pela Coordenadoria, havia dito que iria normalizar esta questão de pagamento, mas até este momento a gente não tem notícias”, salientou Saltiel.

Em Osório, a Prefeitura decidiu não esperar por uma solução por parte do governo do Estado, contratou outro laboratório e profissionais colheram novamente amostras de pacientes que estavam aguardando pelo resultado.

 “A gente teve que abrir um credenciamento, com recursos livres do município, pra não deixar de fazer os exames. A administração deixa de fazer algumas coisas na cidade para poder cumprir uma atribuição do Estado”, afirmou o secretário de Osório, Emerson Magni, ao Litoral na Rede.

O titular da Saúde em Tramandaí reiterou que a gestão de média e alta complexidade, incluindo o exame Papanicolau, é de responsabilidade do governo do Estado, que deveria fiscalizar o contrato.

“É um absurdo, quando se faz todo um trabalho, sensibilizando pacientes de que há necessidade de detecção precoce de qualquer tipo de câncer e, principalmente, de câncer de colo do útero e de mama, que têm um prognóstico muito favorável de tratamento, se começado a tempo, no início da detecção. Isso na verdade é condenação dos pacientes”, disse Luciano Saltiel.

Cinco dos seis maiores municípios da região têm exames retidos

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Em Tramandaí, as análises de 835 exames realizados entre 1º de outubro de 2018 e o fim de abril de 2019 não foram entregues pelo laboratório. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, desse total, 475 amostras foram colhidas ainda no ano passado.

Em Torres, são 2.055 mulheres aguardando pelo resultado. “A demanda é de outubro de 2018 para cá, porém, sempre que, na hora do exame, é constatada alguma alteração, o laboratório recebe a lâmina com um aviso, dando prioridade ao resultado”, informou em nota a Prefeitura.

Já a Prefeitura de Capão da Canoa informou que há 953 exames retidos, alguns desde fevereiro de 2018. O secretário da Saúde de Imbé, Tierres Emerim, relata que no município há 606 mulheres aguardando pelo resultado do Citopalógico Papanicolau. Segundo ele, um ofício foi encaminhado à Coordenadoria Regional relatando o problema.

Em Santo Antônio da Patrulha, são mais 1.100 exames sem resultados entregues às pacientes. De acordo com a Prefeitura, em 2018 foram encaminhadas 1.900 mil amostras ao laboratório e 638 ainda não tiveram laudo do laboratório. Dos aproximadamente 500 exames feitos neste ano, nenhum retornou.

Contraponto

O Litoral na Rede entrou em contato com a direção do Laboratório Cito e enviou uma série de questionamentos em relação à retenção das amostras. A empresa informou que poderá se manifestar após reunião com representantes da SES, prevista para a próxima semana, em Porto Alegre.

A equipe do Portal de Notícias também encaminhou diversos questionamentos à Assessoria de Comunicação da SES, que enviou uma nota informando que não há atrasos nos pagamentos, que algumas contas foram rejeitadas e que aguarda que o prestador de serviço encaminhe documentos para análise da equipe técnica.

“O Laboratório vem recebendo em dia pelos serviços prestados. Algumas contas foram rejeitadas e a Secretaria Estadual da Saúde aguarda que o prestador encaminhe documentos para análise da equipe técnica. Em junho de 2018, foi autorizado o aumento do número de exames a serem realizados por esse laboratório, objetivando ampliar a demanda na região”, diz a nota da Secretaria.

Pedido de substituição do laboratório

Os secretários da Saúde de Tramandaí, Luciano Saltiel, e de Torres, Suzana Machado, foram escolhidos como os responsáveis por intermediar a negociação com a SES e o laboratório para solucionar o problema. Em reunião, os secretários de saúde da região decidiram solicitar ao Estado que libere as Prefeituras a enviarem as lâminas dos exames para laboratórios cadastrados em outras regiões.

A sugestão foi apresentada por Saltiel. “Eu fiz uma manifestação na última reunião, em Osório, solicitando a rescisão do contrato com o laboratório Cito e a transferência desses exames, inclusive com a retirada do material que está retido e não está sendo analisado, não está sendo liberado por conta da falta de pagamento. É algo totalmente descabido na saúde”, disse o secretário de Tramandaí.

Câncer do colo do útero

O câncer do colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, atrás do de mama e do colorretal.  Conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil.

O INCA estima que, em 2018, foram diagnósticos mais de 16 mil novos casos no país. A doença matou mais de 5,7 mil mulheres em 2015.

Exame “Papanicolau”

É um teste realizado para detectar alterações nas células do colo do útero. Este exame também pode ser chamado de esfregaço cervicovaginal e colpocitologia oncótica cervical. É a principal estratégia para detectar lesões precocemente e fazer o diagnóstico da doença bem no início, antes que a mulher tenha sintomas. Pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados.

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