
por Ticiano Kessler e Talis Ramon
Dezenove moradores de Tramandaí seguem retidos na Jamaica após viverem momentos de desespero durante a passagem do furacão Melissa, que atingiu o país na última terça-feira (28) com ventos que chegaram a quase 300 km/h. O grupo, que participava de uma viagem em família, tentou retornar ao Brasil no domingo (26), mas teve o voo cancelado e acabou ficando sem assistência, enfrentando falta de água, energia, internet e comunicação.
A cirurgiã-dentista Lidiane Goldani, 39 anos, é uma das integrantes do grupo. Ela viajava de férias com os pais, o marido e dois filhos – um casal de sete e oito anos, além do irmão e outros parentes e amigos. Em conversa com a reportagem do portal Litoral na Rede, Lidiane relatou os momentos de pânico que viveu durante a passagem do furacão e falou sobre a incerteza sobre como serão os próximos dias em solo jamaicano.
Inicialmente, o grupo se hospedou em um resort em uma das praias do país. Com o alerta de furacão, eles tentaram retornar ao Brasil antes que a situação se agravasse. Já no aeroporto, alegam que ficaram mais de sete horas aguardando indicação de embarque. Somente depois disso acabaram descobrindo que os voos de entrada e saída do país estavam sendo cancelados.
“Sem estrutura, sem banco, sem qualquer funcionário da companhia aérea para nos dar informações. Simplesmente cancelaram os voos e ninguém veio nos dizer para onde ir nem o que fazer”, contou Lidiane.
Os brasileiros, então, foram instruídos pelo serviço de imigração a procurar abrigo em um centro de convenções. Chegando lá, porém, encontraram os portões fechados e foram impedidos de entrar.
36 horas trancados
Foi então que o grupo iniciou buscas a hotéis para se refugiar até a passagem de Melissa pela região. Sem encontrar vagas em locais onde pudessem permanecer juntos, precisaram se dividir em duas turmas. Segundo Lidiane, o grupo dela, com 10 pessoas, entrou no quarto do hotel na noite de segunda-feira (27). E lá permaneceu, trancado, enquanto os ventos do lado de fora atingiam a incrível marca de 280 km/h.
“Passamos por um cenário de guerra por sobrevivência. Tivemos que colocar dois colchões nos vidros do quarto, mais mesas e malas, e ficar segurando o vidro por seis horas. As crianças ficaram dentro do banheiro das 10h às 16h. Foi aterrorizante. Muito medo, insegurança, desespero mesmo”, diz a tramandaiense.
Durante as quase 36 horas em que ficaram trancados no quarto, os brasileiros recebiam comidas e bebidas, mas não tinham qualquer tipo de comunicação com os outro nove integrantes do grupo que ficaram em outro hotel. O grupo só conseguiu sair dos quartos na quarta-feira (29).
“Desde então começou o caos de faltar água, luz, internet, comida. Não temos nenhuma assistência da companhia aérea. Não tivemos assistência das embaixadas, de governos, de ninguém. Os quartos em que o pessoal não ficou segurando os vidros durante o furacão destruiu muito as acomodações”, complementa a cirurgiã-dentista.
Até a noite dessa sexta-feira (31) o grupo permanecia em Montego Bay, na região sudoeste da Jamaica, ainda sem previsão de retorno ao Brasil.
Veja como ficou o local onde eles estão:
Prefeitura de Tramandaí acompanha situação
Também na sexta, a Prefeitura de Tramandaí divulgou um comunicado em que afirma estar acompanhando o caso e buscando apoio junto ao Governo do Estado, ao Itamaraty e ao Consulado Brasileiro na Jamaica para auxiliar no retorno seguro dos moradores. A administração municipal afirmou que segue em contato com autoridades e com familiares dos tramandaienses para repassar informações oficiais.
“Não mediremos esforços para colaborar com as autoridades competentes e garantir que todos possam retornar com segurança para suas casas o mais breve possível”, afirmou o prefeito Juarezinho Marques.

O que diz o Itamaraty
Já neste sábado (1º), o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Kingston, capital da Jamaica, informou que está acompanhando os desdobramentos da passagem do furacão Melissa no país e que presta auxílio a todos os brasileiros que acionaram o serviço de assistência consular naquela jurisdição.
“Desde o início, o setor consular da Embaixada tem divulgado informações para os nacionais que se encontram na Jamaica por meio de correio eletrônico e de suas redes sociais. Todos têm recebido da Embaixada em Kingston a devida orientação e o apoio possível, em contexto de dificuldades causadas pela passagem do furacão”, diz o Itamaraty.
O ministério afirma também que, com a retomada dos voos comerciais, alguns brasileiros partiram ontem pelo aeroporto de Kingston, enquanto os demais devem voltar ao Brasil hoje ou nos próximos dias, à medida que as companhias aéreas consigam restabelecer o serviço no Aeroporto de Montego Bay.










