Morre aos 88 anos o escritor Luis Fernando Verissimo

Autor de personagens como “Analista de Bagé” e “A Velhinha de Taubaté”, ele enfrentava problemas de saúde e estava hospitalizado

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Luis Fernando Verissimo. Foto: UNESP / divulgação

O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, um dos autores mais populares e traduzidos do Brasil, morreu neste sábado (30), aos 88 anos, em Porto Alegre. Ele estava internado na UTI do Hospital Moinhos de Vento com pneumonia e já enfrentava complicações de saúde nos últimos anos. Diagnosticado com Parkinson, passou por implante de marca-passo em 2016 e sofreu um AVC em 2021, que deixou sequelas motoras e de comunicação.

Dono de um estilo marcado pela clareza, ironia e humor, Verissimo se tornou referência na crônica brasileira, gênero em que se especializou ao longo de mais de quatro décadas. Embora tenha publicado mais de 70 livros, entre romances, contos, quadrinhos e coletâneas, sua principal ligação com o público foi por meio dos jornais, onde tratava de política, futebol, cultura e das “comédias da vida privada”.

Criador de personagens inesquecíveis, como o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté e o detetive Ed Mort, também conquistou espaço nas tirinhas. Sua mais famosa, As Cobras, começou em 1975 no Zero Hora e fez sucesso durante mais de 30 anos, misturando humor e crítica política. O livro O Analista de Bagé (1981) marcou seu primeiro grande êxito editorial, chegando a 50 edições em apenas oito meses. Depois viriam outros best-sellers, entre eles As Mentiras que os Homens Contam (2000).

Nascido em Porto Alegre, em 1936, Verissimo viveu parte da infância nos Estados Unidos, acompanhando o pai, o também escritor Erico Verissimo, que lecionava em universidades americanas. Mesmo com a sombra do renomado autor de O Tempo e o Vento, sempre negou que tivesse receio de comparações. “Eu nunca havia pensado em ser escritor. Talvez achasse que não deveria ser por causa dele, mas não era uma coisa deliberada”, disse em 2003.

A carreira começou em 1966, no jornal Zero Hora, onde passou de revisor a colunista. Poucos anos depois, lançou os primeiros livros, como O Popular (1973) e A Grande Mulher Nua (1975). Ao longo da trajetória, escreveu ainda roteiros para TV, como no programa TV Pirata, e viu suas crônicas inspirarem a série Comédias da Vida Privada, exibida pela Globo nos anos 1990. Ao todo, vendeu mais de 5,6 milhões de exemplares.

Apesar da popularidade, Verissimo cultivava a discrição. Tímido, evitava entrevistas e dizia que só conseguia se expressar plenamente pela escrita. Apaixonado por jazz, tocava saxofone e integrou o grupo Jazz 6. Também era torcedor fanático do Internacional, clube que inspirou crônicas e o livro Internacional, Autobiografia de uma Paixão. Sobre o título mundial de 2006, escreveu a célebre crônica Não me acordem.

Além da literatura e do jornalismo, também marcou presença no debate político. Admirador do PT, tornou-se crítico frequente de governos e chegou a protagonizar embates públicos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem se referia como “Éfe Agá”. Ao longo da carreira, recebeu prêmios importantes, como o Juca Pato de Intelectual do Ano (1997) e o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura (2009).

Verissimo deixa a esposa, Lúcia Helena Massa, três filhos e dois netos. Informações sobre velório e sepultamento ainda não foram divulgadas.

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