Vento, correntes marinhas e chuva: a presença ou ausência de cada um desses fatores são decisivas para as condições do mar no Litoral do Rio Grande do Sul. Nesta quarta-feira (31), cada um deles atuou na medida certa para garantir um dia de mar com água clara e mais quente que o normal nas praias do Litoral Norte, com direito a rara bandeira verde nas guaritas dos guarda-vidas.
Foi daqueles dias que acontecem em quase todos os verões, mas que não são a regra na costa da região. As ondas estavam mais leves e havia poucas correntes de retorno, além de água mais quentinha e esverdeada, longe do famoso aspecto “chocolatão” (apelido dado ao mar mais turvo do RS).
Quem conseguiu aproveitar a praia certamente saiu da faixa de areia com gostinho de quero mais. Já quem não pode dar um mergulho, espera que o mar continue assim nos próximos dias. Especialistas e pesquisadores consultados pelo portal Litoral na Rede explicam que é difícil prever, mas que as condições climáticas serão decisivas.
Entenda os fatores que garantem mar mais claro no Litoral Gaúcho
Para entender o que altera as condições do mar gaúcho, a reportagem do Litoral na Rede consultou dois doutores em Oceanografia ligados ao Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) do Campus Litoral Norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): o biólogo Ng Haig They e a química Cacinele Rocha.
They aponta que um dos fatores é a menor presença das plumas estuarinas (águas que saem dos estuários e ingressam no mar), que trazem nutrientes do Rio da Prata e da Lagoa dos Patos, favorecendo a proliferação de algas.
“Elas têm uma dinâmica sazonal. Durante o inverno, com mais influência de vento sul, elas migram ao longo da costa e vão até próximo à divisa com Santa Catarina. Elas trazem todos aqueles nutrientes que vêm dos rios para a região norte do Rio Grande do Sul, fertilizam a nossa costa e a gente tem o crescimento das algas”, explicou o professor e pesquisador.
Além do vento, que tem sido fraco nos últimos dias, o tempo seco também contribui para o cenário visto nesta quinta. Cacinele aponta que a ausência de chuva nos últimos dias também foi fundamental.
“A chuva sempre é um fator importante porque ela acaba empurrando muita água, trazendo muita água do continente para a beira-mar, tanto superficial, quanto pelo subterrâneo. [E o tempo seco] faz com que não tenha uma movimentação dos sedimentos”, detalhou.
A pesquisadora também aponta que a água que segue do continente para o mar, quando chove, é mais rica de nutrientes e favorece o desenvolvimento de microalgas. Por fim, Cacinele diz que as correntes marítimas também influenciam bastante.
“Neste período, a gente tem a corrente do Brasil que é aquela mais quente de característica Equatorial, que ganha mais força, desce de Norte para o Sul, e pode alcançar mais a costa do Rio Grande do Sul”, concluiu.
O mar vai seguir claro e mais quente no Litoral do RS?
Os pesquisadores da UFRGS consultados pelo Litoral na Rede não se arriscam em afirmar até quando as condições do mar seguirão como neste último dia de janeiro de 2024. Eles explicam que a mudança em qualquer um dos fatores pode alterar o cenário.
“São os ventos que trazem as algas. Enquanto perdurarem as condições de pouco vento, ou de vento mais de nordeste, a tendência é que está situação se mantenha”, explicou They sobre a água permanecer mais clara.
“É difícil de prever inclusive o clima hoje em dia, então é mais difícil ainda prever o que se desdobra a partir daí [com o mar]. Depende da chuva, depende do vento, depende das correntes oceânicas”, ponderou Cacinele.