O mês de setembro é considerado o auge da presença das baleias-francas no litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. E entre segunda e terça-feira, 17 e 18 de setembro, em dois sobrevoos de helicóptero, foram registradas 216 baleias-francas, sendo 107 fêmeas, 107 filhotes e dois adultos solitários.
Do montante, 18 foram avistadas no RS, sendo 8 em Imbé. Em SC, 82 baleias-francas foram registradas entre as praias do município de Imbituba e 26 na Praia do Moçambique, em Florianópolis. Os sobrevoos científicos foram realizados entre Cidreira (RS) e Florianópolis (SC), em uma ação conjunta do Programa de Monitoramento das Baleias-francas da SCPAR Porto de Imbituba (SC) e do Projeto Franca Austral, realizado pelo Instituto Australis, com patrocínio da Petrobras.
“O monitoramento aéreo é fundamental para entendermos como as baleias-francas estão respondendo aos esforços de conservação da espécie, tendo em vista que a partir dele podemos estimar os parâmetros demográficos da população. Um sobrevoo com um número elevado de baleias como o de 2024 aumenta a chance de encontrarmos baleias já conhecidas. E, é essa a informação que precisamos para gerar os modelos estatísticos que resultam em números como o tamanho populacional e as taxas de crescimento anual”, explicou o gerente de pesquisa do ProFRANCA, Eduardo Renault.
A diretora do ProFRANCA, Karina Groch, informou que durante o monitoramento aéreo, com uma equipe de dois observadores e um fotógrafo, foi realizado o censo e o registro da localização dos indivíduos, além da fotografia das baleias. “As fotos são utilizadas na identificação das baleias adultas, já que suas calosidades sobre a cabeça funcionam como uma impressão digital”, ressaltou.
Em 2018, 273 baleias foram avistadas, sendo o maior número registrado no monitoramento que acontece desde o final da década de 1980. Em 2023, foram contabilizadas 225. Para Urbano Lopes de Sousa Netto, diretor-presidente da SCPAR Porto de Imbituba, “a Expedição Baleia-Franca trouxe resultados excelentes para todos que trabalham pela conservação da espécie”.
Mariana Favero Silvano, bióloga e coordenadora técnica do Programa de Monitoramento de Cetáceos do Porto de Imbituba, integrou a expedição como observadora secundária/auxiliar. Ela declarou que a temporada reprodutiva de 2024 tem surpreendido muito, com o número de baleias presente em nosso litoral. “Esse aumento das avistagens ao longo dos anos nos deixa imensamente felizes, pois é uma resposta positiva da recuperação populacional desse animal que foi caçado por séculos em nosso litoral”, comemorou.
As baleias-francas
A baleia-franca é uma espécie ainda ameaçada de extinção no Brasil, e conta com uma população estimada em cerca de 500 indivíduos e uma taxa de crescimento de 4% ao ano. Os números são resultado de uma tese de doutorado, contemplando uma análise de 15 anos de dados dos sobrevoos de monitoramento da espécie. A realização e continuidade deste monitoramento sistemático de longo prazo é fundamental para acompanhar a recuperação populacional da espécie no sul do Brasil.
O animal é uma espécie migratória que sai de regiões geladas como a Antártica – onde se alimenta durante o verão – para se reproduzir em outros lugares mais quentes no inverno. Os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina são áreas históricas para as fêmeas darem à luz no Brasil.
As baleias-francas são cetáceos que atingem, em alguns casos, mais de 17 metros de comprimento. As fêmeas adultas chegam a pesar mais de 60 toneladas, enquanto os machos pesam até 45 toneladas.
O “borrifo” das baleias-francas, que pode atingir de cinco a oito metros, é bastante característico, em forma de “V”. A característica mais marcante são as calosidades que ela apresenta na cabeça. São únicas em cada animal e servem como uma espécie de impressão digital, usada por pesquisadores para monitorar e catalogar os indivíduos.
Monitoramentos
Um monitoramento sistemático a partir de terra está sendo realizado pelo projeto ProFRANCA ao longo de 15 pontos fixos na região da APA da Baleia-Franca. A metodologia empregada dá continuidade aos estudos de longo prazo realizados pelo Instituto Australis, para avaliar a abundância, o padrão de distribuição, a sazonalidade e o comportamento das baleias-francas.
Na região do Porto de Imbituba, o Programa de Monitoramento das Baleias-Francas integra o Plano de Controle Ambiental (PCA) da SCPAR Porto de Imbituba. Realizado há 16 anos, o trabalho abrange duas metodologias: monitoramento aéreo e terrestre. Por terra, a observação ocorre em pontos fixos nas enseadas das praias do Porto e da Ribanceira, entre os meses de julho e novembro, e é executado pela empresa Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental.
O monitoramento da frequência dos cetáceos na região possibilita que o Porto estabeleça controles operacionais voltados à conservação da espécie. “As informações coletadas ao longo da temporada permitem analisar a frequência de uso e comportamento das baleias, a fim de garantir a segurança e a conservação da espécie em harmonia com a continuidade das operações portuárias”, avalia Camila Amorim, oceanógrafa da SCPAR Porto de Imbituba.
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