por Tatiane de Sousa, jornalista
Iniciou oficialmente neste mês a campanha Janeiro Branco, instituída por Lei Federal sancionada em 2023. O movimento promove a conscientização do cuidado com a saúde mental e realiza diversas atividades na abordagem de temas relacionados ao problema.
Criada há dez anos, a data se justifica em dados como os do Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta que, em 2019, quase um bilhão de pessoas tinham algum transtorno mental. O documento também mostrou que, por condições graves de saúde mental, pessoas vivem em média 10 a 20 anos menos e que os casos de depressão aumentaram em 25% a partir da pandemia de covid-19.
Transtornos mentais são considerados ameaças globais à saúde mental, às desigualdades sociais e econômicas, deficiências de serviços públicos, guerra e crise climática. Estigma e violação de direitos contribuem para baixos investimentos na área.
O psicólogo Vitor Tostes alerta, no entanto, que a saúde mental tem muita influência em vários aspectos da nossa vida e por isso, nos últimos anos, passou-se a dar mais importância para as estatísticas. A partir de 2012, por exemplo, se percebeu que de cada 100 mortes, uma acontece por suicídio e que mais de 50% desses acontecem antes dos 50 anos.
“Por isso se começou a dar mais importância a esse cuidado apesar de os investimentos em saúde mental no Brasil só chegarem a 2% do que é investido em saúde global, mas melhorou bastante em relação ao que acontecia antes da pandemia porque se percebeu que as pessoas ficaram muito mais vulneráveis a partir da solidão e medo. As estatísticas a respeito da procura por psicoterapia mostram um aumento de 300 a 400% de 2020””, explica Tostes.
A criação de um mês no calendário para tratar da saúde mental se justifica não só pelos números, mas também para chamar a atenção nos fatores multisetoriais que impactam nas questões mentais e emocionais.
“Estamos falando de uma questão multifatorial: social, cultura, econômica, de acesso à educação. Tudo isso impacta a saúde do brasileiro, seja física ou mental. Falar abertamente sobre cuidados deixa as pessoas menos vulneráveis e alertas sobre a relevância desses aspectos, e promove um cuidado maior que vai de investimentos até a vulnerabilidade social”, acrescenta o psicólogo.
Os investimentos, no entanto, estão muito distantes da necessidade se forem comparados aos prejuízos. Além de vidas perdidas e incapacitação, as doenças mentais são apontadas como causa e consequência de ciclos de pobreza e afastamentos do trabalho, o que causa prejuízos a empresas, instituições e governos. A projeção do Programa sobre Demografia Global do Envelhecimento da Universidade de Harvard, é de que até 2030 a saúde mental será responsável por perdas de US$ 6 trilhões por ano.
“Apesar disso, já se percebe uma melhoria de investimentos, com aumento no número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) com atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e mais contratações e valorização de profissionais que atuam no setor, como assistentes sociais e psicólogos, além de psicoterapia em grupo e medicamentos”, cita Vitor.
Nesse ano, o Janeiro Branco chama atenção para o aumento de casos de violência e autoviolência, além do consumismo alienado, desafios mais evidentes a partir do fim da situação da pandemia de covid-19.
O Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013-2030, assinado por todos os 194 estados membros da OMS, aponta as metas para transformar a saúde mental, que são:
1. Aprofundar o valor e o compromisso que damos à saúde mental:
– Aumentar investimentos em saúde mental;
– Ter liderança comprometida, buscando políticas e práticas baseadas em evidências e estabelecendo sistemas robustos de informação e monitoramento;
– Incluir pessoas com problemas de saúde mental em todos os aspectos da sociedade;
– Tomar decisões para superação do estigma e a discriminação;
– Reduzir disparidades e promover justiça social.
2. Reorganizar os entornos que influenciam a saúde mental, incluindo lares, comunidades, escolas, locais de trabalho, serviços de saúde, etc.:
– Fomentar a colaboração intersetorial, especialmente para compreender os determinantes sociais e estruturais da saúde mental;
– Intervir de forma a reduzir riscos, gerar resiliência e desmontar barreiras que impedem pessoas com problemas de saúde mental de participar plenamente da sociedade;
– Implementar ações concretas para melhorar os entornos para a saúde mental, como intensificar a ação contra a violência por parte do parceiro e o abuso e negligência de crianças e pessoas idosas;
– Facilitar a criação de cuidados para o desenvolvimento da primeira infância, disponibilizando apoio de subsistência para pessoas com problemas de saúde mental, introduzindo programas de aprendizagem social e emocional.
3. Reforçar a atenção à saúde mental mudando os lugares, modalidades e pessoas que oferecem e recebem os serviços:
– Estabelecer redes comunitárias de serviços interconectados que se afastem dos cuidados de custódia em hospitais psiquiátricos e cubram um amplo espectro de atenção e apoio por meio de uma combinação de serviços de saúde mental integrados à atenção geral de saúde; serviços comunitários de saúde mental; e serviços para além do setor da saúde;
– Diversificar e ampliar as opções de atenção aos transtornos mentais mais comuns, como depressão e ansiedade, que tem uma relação custo-benefício de 5 para 1.
O psicólogo Vitor Tostes complementa que chamar a atenção para a saúde mental ajuda as pessoas a na identificação dos seus problemas e atenção para o fato de não se estar sozinho nessas questões.
“É importante entender que se deve dar atenção ao cuidado, estar mais próximo de si, em contato com suas emoções, buscar relações que me considerem mais e buscar ajuda quando necessário valorizando os profissionais da área e estabelecendo relações com nosso sofrimento com mais integridade”, reforça.