Já deu a dose de tarja branca do seu filho hoje?

Por Juliana Ramiro, psicanalista

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Imagem meramente ilustrativa. Foto: Kampus Production via Pexels

A infância é um tema fundamental para refletirmos não apenas enquanto ela acontece, mas também quando pensamos no futuro. Que adolescente, que adulto resultará da infância que se desenrola agora? Fato: a criança é o adulto de amanhã. Não há compartimentos estanques para cada fase da vida – ela é um contínuo.

Hoje, no consultório (e fora dele), observo infâncias marcadas pelo excesso de telas, medicalização e dificuldades na gestão da frustração. De um lado, pais que oferecem tudo materialmente, evitando frustrações a qualquer custo; de outro, frustrações excessivas e desassistidas – como deixar o bebê chorando sozinho até que ele “aprenda” a parar de fazer birra.

O resultado? Crianças cada vez mais adoecidas e adultos mais frágeis. O que está faltando? Tempo.

Criar um filho demanda um tempo que, para muitas pessoas, se tornou escasso. A solução seria não tê-los? Talvez. Mas defendo que há um caminho do meio – nem tudo, nem nada.

No final do ano passado, o relatório Digital 2024: 5 Billion Social Media Users, da We Are Social e Meltwater, indicou que os brasileiros passam, em média, 9 horas e 13 minutos por dia conectados às redes sociais. Isso é um número impressionante, considerando que um dia tem 24 horas. Diante desses dados, vale a reflexão: será que estamos excessivamente conectados ao mundo virtual e, ao mesmo tempo, cada vez mais distantes dos vínculos reais – aqueles que acontecem dentro de casa, com nossos filhos?

Sempre digo que o bebê humano só se torna humano no contato com seus pares. Ele é, portanto, um reflexo do ambiente em que cresce. No entanto, o que vemos hoje é um número crescente de laudos, diagnósticos e medicalização. Estamos tratando o sintoma, sem buscar compreender a causa.

O que está faltando para as crianças de hoje? Infância.

É preciso trocar o tarja preta (medicação necessária quando tudo foge ao controle) pelo preventivo tarja branca.

Tarja branca é oferecer brincadeiras livres, acolhimento, afeto, carinho, colo, olhar atento do adulto, idas à pracinha, programas em família, histórias antes de dormir, partilha dos momentos dentro de casa.

É urgente tratarmos a infância com tarja branca, se quisermos adultos mais seguros, emocionalmente saudáveis e preparados para enfrentar os desafios da vida.

Já deu a dose de tarja branca do seu filho hoje?

Para aprofundar essa discussão, conversei no podcast Psi Por Aí com a psicanalista e musicoterapeuta, Anna Lucia Leão Lopez, que, entre suas atividades, coordena o Núcleo de Estudos Psicanalíticos da Infância e Adolescência (NEPsI), com membros em todo o país.


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  • Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura. E-mail: admin@julianaramiro.com.br

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