Filhote de “Geraldona” é atração na temporada dos botos no Rio Tramandaí

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Foto: Kevin Christmann / Ceclimar / Ufrgs Litoral

O período entre março e maio, quando cardumes de tainha saem do estuário do Rio Tramandaí para o mar, é também época em que os botos são vistos com mais frequência na barra entre Tramandaí e Imbé. O espetáculo da interação entre os animais e os pescadores é bem conhecido. Mas neste ano a novidade é a presença do novo filhote da matriarca dos botos da barra, a “Geraldona”.

Os primeiros registros fotográficos feitos pelo monitoramento do projeto “Botos da Barra”, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar / Ufrgs Litoral) foram no último dia 14 de março. Os estudantes de Biologia Marinha KevinChristmann e Keila Menger, estavam às margens do Rio Tramandaí executando o monitoramento da área, quando foram informados por pescadores da presença de Geraldona com o filhote.

Kevin contou ao Litoral na Rede que logo percebeu a fêmea pelas marcas na nadadeira junto com o novo filhote e começou a fotografar. “Eles estavam bem ativos. A Geraldona fazendo os movimentos com a cabeça e ele repetindo as cabeçadas” contou o estudante ao Litoral na Rede. Esses movimentos são os sinais dos botos aos pescadores para a presença dos cardumes.

A bióloga marinha Nathalia Serpa, que está concluindo a dissertação de mestrado, no Programa de Pós Graduação em Biologia Animal da UFRGS, sobre o comportamento dos botos da barra e as relações sociais entre os animais, explicou que “eles normalmente nascem durante a primavera, mas não temos como especificar exatamente quando nasceu o filhote”.

Segunda ela, ainda não há um nome oficial para o novo boto. Esta definição é feita pelos pescadores com o tempo, a partir das características do animal. “O Ligierinho, que também é filho da Geraldona, por exemplo, ganhou este nome dos pescadores por ser um boto ágil e rápido”, explicou a pesquisadora.”

A matriarca dos botos da barra

Foto: Kevin Christmann / Ceclimar / Ufrgs Litoral

Geraldona é a matriarca dos botos que frequentam a barra do Rio Tramandaí. Com o novo filhote, são cinco os filhos da fêmea de golfinho identificados pela equipe do Ceclimar. Segundo a pesquisadora Nathalia Serpa, até o ano passado, ela era vista sempre junto com o “Ligeirinho”, um boto que tem de 3 e 4  anos.

Ela também é mãe de outros animais bem conhecidos na barra, como a fêmeas Rubinha e os machos Chiquinho, Flexinha e Ligeirinho.  Há relatos de pescadores, que ainda não foram confirmados pelos pesquisadores, de que Geraldona teria um novo neto, o filhote novo da Rubinha.

Segundo Nathalia, 11 botos frequentam regularmente o Rio Tramandaí. “A maioria é filho e neto da Geraldona”, salientou a bióloga marinha. A estimativa dos pesquisadores é de que a matriarca tenha entre 35 e 40 anos, e um dos filhos mais de 20 anos.

A tradição da pesca colaborativa

Foto: Projeto Botos da Barra do Rio Tramandaí / Ceclimar

Para os cientistas, a presença constante dos golfinhos na Barra do Rio Tramandaí e a interação com os pescadores estão ligadas a uma transmissão cultural de uma geração para outra, em que Geraldona tem papel fundamental.

“Provavelmente ela aprendeu com a sua mãe, a Manchada, uma fêmea que frequentou a Barra até a década de 90 e está agora passando os ensinamentos para os seus filhotes. Algo muito interessante é que essa transmissão cultural está fazendo com que essa linhagem permaneça e cresça muito rapidamente”, destaca o biólogo, professor da Ufrgs e coordenador do projeto Botos da Barra, Ignacio Moreno.

Segundo o pesquisador, especialista em animais marinhos, essa transmissão cultural garante o sucesso reprodutivo da espécie na região.  “Esse ensinamento é que faz ter um sucesso reprodutivo tão grande, que os filhotes continuem vivos, crescendo bem, se desenvolvendo e não saiam daqui, porque eles estão bem adaptados à realidade local, encontram comida, abrigo e se desenvolvem de forma muito adequada”, explicou.

Ignacio Moreno alerta, por outro lado, para a importância da preservação dessa tradição. “Num ambiente tão urbanizado, que cresce rapidamente, de forma desordenada, botos estão se adaptando e conseguindo sobreviver. Mas tudo tem um limite, a gente não sabe até onde”, concluiu.

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