Especialista em planctologia explica bioluminescência no mar

Fenômeno também conhecido como mar brilhante vem sendo registrado em vários pontos do Litoral Norte do RS

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Capão da Canoa. Foto: Sérgio Ordobás

Moradores e veranistas que gostam de admirar o mar durante a noite foram surpreendidos por ondas brilhantes, a bioluminescência. O fenômeno foi visto na noite dessa terça-feira (18), por exemplo, em várias cidades do Litoral Norte, como Capão da Canoa, Xangri-Lá e Tramandaí.

Em Capão da Canoa, o fotógrafo Sérgio Ordobás, morador do município, registrou o fenômeno. As imagens foram capturadas por volta da meia-noite. Em meio à escuridão, as ondas brilhantes o encantaram, assim como outras pessoas que estavam na praia.

Para explicar o fenômeno e quando a bioluminescência pode ocorrer, a equipe do Litoral na Rede entrevistou a especialista em planctologia, professora Elisabeth Cabral Silva Falcão, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar/UFRGS).

“É um fenômeno natural e que chama bastante atenção por sua beleza, por ter uma luz com uma cor bonita, azulado. Um fenômeno que alguns organismos produzem uma luz através de uma reação química”, disse a professora, que viu as imagens compartilhadas nas redes sociais.

Elisabeth explica que, para ocorrer a bioluminescência nas ondas, é necessário que haja condições que favorecem uma quantidade muito grande de plâncton, que são seres flutuantes que não conseguem superar a força das correntes aquáticas.

“É preciso que esse organismo se desenvolva, se reproduza e sua população cresça num número muito grande, em um intervalo de tempo curto. Então dizemos que houve um floração desse organismo. Neste caso, o que causa essa bioluminescência nós chamamos de Noctiluca, que é uma espécie de microorganismo que faz parte do grupo dos dinoflagelados”, explicou.

A especialista disse ainda que a Noctiluca ocorre o tempo inteiro e está em toda a costa brasileira. “São organismos plânctonicos, microscópicos e quando ocorrem em grande quantidade nós veremos melhor esse fenômeno, de forma mais visível e intensa, quando existe a floração”, comentou.

A professora explicou que há um conjunto de fatores que convergem para uma maior probabilidade de ocorrência da bioluminescência, também conhecida como ondas brilhantes. “Ocorre quando temos calor e água mais quente, que estimula a reprodução dos organismos. Além disso, a gente tem que ter uma quantidade de nutrientes”, afirmou Elisabeth.

Segundo a pesquisadora, existem relatos na literatura científica que, após haver uma grande quantidade de diatomáceas, alimento para as noctilucas, há uma maior probabilidade de ter essa floração. “Então temos mais alimento, mar mais calmo, ventos fracos, uma coluna d’água mais estratificada e isso proporciona uma melhor ocorrência dessas florações”, informou.

Bioluminescência

Capão da Canoa. Foto: Sérgio Ordobás

Conforme a professora do Ceclimar/UFRGS, a bioluminescência é uma reação química, que acontece quando alguns organismos produzem uma luz, que é fria. “Essa reação química libera  fótons, em vez de liberar calor. Esses organismos uma proteína que seria a base para essa reação química, que é chamada de luciferina. Ela pode estar em células ou podem ser órgãos especializados em produzir esta luz”, detalhou a especialista.

Elisabeth citou diversos exemplos na natureza de microorganismos que produzem bioluminescência, desde os vagalumes, os mais comuns no ambiente terrestre, alguns cogumelos, que são bioluminescentes, e os do ambiente marinho, onde há uma maior riqueza e diversidade desse fenômeno, em termos de diferentes animais que produzem. “A gente pode observar em peixes, moluscos, crustáceos, águas vivas”, explicou.

Tendência mundial

Torres: Foto: Gabriel Zaparolli / arquivo

A professora ressaltou sobre a ocorrência de florações no Litoral Norte Gaúcho e lembrou que há relatos na literatura científica. “É importante a gente estar monitorando, observando a ocorrência dessas florações, porque existe uma tendência mundial de que o fenômeno continue ocorrendo com mais frequência nos oceanos”.

“As florações não são tóxicas e não causam problemas diretos na saúde humana. Mas, existem outras espécies que são tóxicas, então existe uma preocupação”, afirmou.

A pesquisadora também salientou que “é um reflexo dos impactos em termos da eutrofização dos mares, ou seja, excesso de nutrientes, por conta da atividade humana e também mudanças na temperatura, com oceanos mais quentes, eventos climáticos, que estão ocorrendo com mais frequência. Essas ocorrências tendem a aumentar conforme a gente tem causado esses impactos”, finalizou.

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