Enchentes no RS arrastam plantas e mudam cenário nas praias do Litoral Norte

Aguapés trazidos pela correnteza acumularam na faixa de areia nos últimos dias

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Plantas arrastadas pela correnteza se acumularam na beira da praia. Foto: Leandro Luz / Prefeitura de Imbé

Apesar de sofrer poucos impactos das enchentes, o Litoral Norte do Rio Grande do Sul sofreu uma mudança de cenário nos últimos dias em função das cheias dos rios. Plantas arrastadas pela correnteza se acumularam na beira da praia de cidades da região.

Imagens registradas nesse domingo (05), em Imbé, mostram a faixa de areia tomada por aguapés. As plantas também se acumularam nas margens do Rio Tramandaí, que tem ligação direta com o mar.

A professora do curso de Biologia Marinha do Campus Litoral Norte da UFRGS, Dra. Alice Pita Barbosa, explicou ao Litoral na Rede que essas plantas são macrófitas aquáticas de ambientes de água doce. Além da espécie conhecida como aguapé (gênero Eichornia), há também elódeas (gênero Egeria) e orelha-de-onça (gênero Salvinia).

“Elas geralmente ocorrem em águas calmas, de maneira submersa (elódea) ou distribuídas ao longo da superfície (aguapé e orelha-de-onça) e sem se fixarem ao substrato. Portanto, podem se movimentar livremente de acordo com o fluxo de água”, explica a professora.

Rio Tramandaí. Foto: Raquel Costa / colaboração Litoral na Rede

Alice destaca ainda que o Rio Grande do Sul possui um complexo lacustre bastante extenso, com muitas lagoas conectadas entre si de forma permanente ou temporária, nas quais essas plantas podem ocorrer em grandes quantidades. E aponta que as enchentes contribuíram para serem aportadas em grande quantidade para o Litoral Norte.

“O enorme volume de água proveniente das chuvas da última semana promoveu elevação nos níveis de água dos ambientes aquáticos, intensificando suas conexões. Adicionalmente, a pavimentação urbana é pouco eficaz na rápida absorção da água das chuvas, intensificando ainda mais o aporte de água, como ocorreu com o lago Guaíba, que acabou atingindo valores históricos. Isso intensificou o fluxo de água em direção aos rios que, por sua vez, desaguam no mar, fazendo com que as macrófitas aquáticas mencionadas se movimentassem nessa direção”, detalhou a especialista em Botânica.

Alice ressalta que que algumas condições contribuem para a proliferação exagerada dessas plantas, como os elevados níveis de fósforo e nitrogênio devido à descarga de esgoto doméstico, por exemplo.

“Estes compostos podem estar presentes em grandes quantidades também em sabões, shampoos e detergentes. Quando em excesso, essas plantas podem ocupar toda a superfície, bloqueando a passagem de luz para dentro da coluna d’água e impedindo que outras espécies fotossintetizantes que habitam dentro da água (plantas ou algas) não consigam produzir quantidades adequadas de oxigênio, o que pode resultar na morte de organismos não-fotossintetizantes, como peixes e invertebrados, processo denominado eutrofização”, finalizou.

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Imagem registrada em Imbé. Foto: Leandro Luz / Prefeitura de Imbé
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Plantas também se acumularam nas margens do Rio Tramandaí. Foto: Leandro Luz / Prefeitura de Imbé

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