Dezembrite: angustia, depressão e ansiedade de fim de ano têm nome

Como saber lidar com isso e quando esse quadro deve ser motivo de preocupação; veja as orientações

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Imagem meramente ilustrativa.

Por Tatiane de Souza, Jornalista

Eventos, contas a pagar e muitos gastos extras, lojas e supermercados cheios, uma urgência nas ruas e, nas redes sociais, todos felizes com as realizações do ano que passou e cheios de esperanças pelo que está por vir. Diante disso tudo, algumas pessoas ficam com o sentimento de que estão no lugar e tempo errados. No entanto, elas não estão sozinhas: A carga de ansiedade e preocupação nessa época, costuma ser maior do que em qualquer outro período.

Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), apontou que o estresse e a ansiedade dos brasileiros, aumenta em 75% em média, no mês de dezembro. Entre as mulheres, o nível aumenta em até 82%. O problema já ganhou até nome: Dezembrite ou Síndrome de fim de ano. Mas como saber lidar com isso e quando esse quadro deve ser preocupante?

A dezembrite é classificada pelos profissionais da saúde mental como um Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), que apesar de ser um conceito novo e que vem sendo discutido há poucos anos, pode gerar desgaste emocional e até apresentar agravamento para casos agudos.

A psicóloga clínica com Foco em Saúde Mental, Direitos Humanos e Desenvolvimento de Carreira, Rozane Fialho explica que passar por períodos de tristeza, melancolia e ansiedade é natural do ser humano. Ela esclarece que, no final de ano, as questões emocionais ficam mais aparentes, tanto para muitas demonstrações de afeto, quanto para reflexões e avaliações internas.

“As pessoas ficam mais sensíveis aos sentimentos e sempre que se abrem para a possibilidade de sentir, a angústia pode aparecer. Merecem maior atenção os casos em que os sintomas afetam a qualidade de vida da pessoa, como alteração de sono e de apetite, enxaqueca recorrente, desenvolvimento de quadros de dermatites e gastrites, entre outros sintomas. As pessoas devem procurar ajuda profissional em casos de permanência dos sintomas e quando já têm histórico anterior de quadros psicopatológicos”, alerta a psicóloga.

Entre as motivações para a síndrome estão os sentimentos desencadeados pelos eventos que envolvem as festividades como comparações, encontros com pessoas indesejadas, metas que nem sempre foram alcançadas, frustrações com a vida financeira e familiar, que podem gerar impactos na saúde mental.

Para amenizar a situação, o ideal é fazer terapia durante o ano para compreender os fatores da sua própria história de vida, que geram todo este desgaste emocional nessa época do ano.

“Pensando em um cenário de uma pessoa sem acesso a terapia, a dica é que ela evite comparações a partir de recortes de redes sociais. É importante também evitar estar em locais que despertam os sintomas e que faça períodos de distanciamento de situações que engatilham o sofrimento e em casos mais severos, buscar ajuda com profissionais de plantão neste período”, orienta Rozane.

As festas de fim de ano também acendem um alerta vermelho para o uso abusivo de álcool e outras drogas. O consumo dessas substâncias pode trazer em um primeiro momento sensação de relaxamento o que se confirma pelo ponto de vista fisiológico, mas na verdade podem potencializar ou desencadear sintomas depressivos ou de ansiedade.

Quem sofre de doenças como alcoolismo ou dependência química precisa de um olhar ainda mais cuidadoso para os gatilhos do período cercado de excessos. Além da ajuda de um profissional da área da saúde mental, são recursos válidos para o enfrentamento os grupos de apoio.

Onde procurar ajuda?

Centro de Valorização da Vida (CVV): Organização da sociedade civil sem finalidades lucrativas, de caráter filantrópico, reconhecida como Entidade de Utilidade Pública Federal. Oferece atendimento para apoio emocional e prevenção ao suicídio de forma sigilosa e gratuita, por meio de voluntários pelo telefone 188. Funciona 24 horas. Em 2023 até o final do terceiro trimestre, a média mensal de ligações atendidas por dia chegou a 7.646 e ultrapassa 2 milhões ao longo destes noves meses.

Alcoólicos Anônimos (A.A): É uma Irmandade de homens e mulheres que se reúnem para alcançar e manter a sobriedade através da abstinência total da ingestão de bebidas alcoólicas. Qualquer pessoa pode procurar os grupos inclusive familiar na busca de informações e quem tem dúvidas se é ou não alcoolista mesmo sem o propósito de se tornar frequentador habitual. A participação é anônima e gratuita.

O tratamento acontece a partir da partilha de experiências seja de situações vividas na ativa alcoólica, sofrimentos e recuperação. No Brasil, são mais de cinco mil grupos existentes oferecendo 11.642 reuniões por semana em pequenas e grandes cidades.

Horários e locais das reuniões podem ser conferidos no site www.aa.org.br lembrando que há encontros presenciais e virtuais todos os dias, inclusive em feriados e fins de semana. “A.A. funciona desde que o membro admita sua doença e tenha o firme propósito de não ingerir qualquer bebida alcoólica a cada 24 horas. Quando passei a adotar o programa de doze passos na minha vida, perdi todo o sofrimento e atribulações causadas pela doença”, relata um membro de AA, sóbrio há muitos anos.

Narcóticos Anônimos (N.A): É uma Irmandade ou Sociedade sem fins lucrativos, de homens e mulheres para quem as drogas se tornaram um problema maior. Formada por adictos em recuperação, grupos em todo o mundo se reúnem para troca de experiências e ajuda mútua para manterem-se limpos. Informações sobre grupos presenciais ou virtuais podem ser encontradas em www.na.org.br/grupos.

Veja outros aconselhamentos profissionais da psicóloga Rozane Fialho:

1)        Entender que cada pessoa tem uma história de vida, que vai impactar positivamente ou negativamente no desenvolvimento da pessoa, evitando comparações injustas.

2)        Buscar ambientes que fortaleçam vínculos seguros

3)        Falar sobre os sentimentos e angústias

4)        Estabelecer prioridades nas confraternizações, evitando compromissos em excesso

5)        Praticar exercícios físicos para diminuir a ansiedade e gerar bem estar

6)        Tentar manter uma rotina de alimentação saudável

7)        Não interromper tratamentos farmacológicos e acompanhamento psicológico, para quem tem quadros psicopatológicos

8)        Iniciar terapia quando possível

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