Corsan anuncia redução da emissão de efluentes de esgoto na Lagoa dos Barros

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Foto: Prefeitura de Santo Antônio da Patrulha

A Companhia Estadual de Saneamento (Corsan) informou neste sábado (14) que iniciou a redução da emissão de efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Osório, na Lagoa dos Barros. A medida foi adotada após acordo em reunião com a Secretaria Estadual do Meio (Sema), Fepam, o Ministério Publico Estadual sobre o episódio da coloração esverdeada na lagoa.

Em nota, a empresa informa que “desativou uma estação de bombeamento de esgoto e está transportando o esgoto que chega nela com caminhão para outra ETE”. A estatal afirma ainda “não ter responsabilidade sobre o evento, o qual não foi causado pelo lançamento de efluentes tratados oriundos da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Osório, a Corsan adotará todas as medidas para colaborar com o caso”.

No dia 11 de março, o balneário da Lagoa dos Barros, em Santo Antônio da Patrulha, foi interditado devido à coloração da água com formações gelatinosas.  Nessa sexta-feira (14), a Prefeitura do município, através do Departamento do Meio Ambiente (DMA), emitiu uma nota que afirma que “a ETE está lançando seus efluentes desde dezembro de 2018 fora dos padrões estabelecidos no estudo de capacidade da Lagoa dos Barros”.

O texto foi elaborado, após coleta e análise das amostras de água da lagoa, por biólogas do DMA e pela especialista em cianobactérias do Museu de Ciências Naturais (SEMA-RS), Vera Regina Werner. “As manchas esverdeadas e azuladas na superfície da água e nas margens da Lagoa dos Barros são causadas pela multiplicação excessiva de uma cianobactéria denominada Dolichospermum planctonicum”, afirma a nota oficial.

“Em condições normais as cianobactérias e os demais organismos aquáticos convivem de modo equilibrado. No entanto, quando há algum tipo de poluente que enriqueça a água, principalmente nitrogênio e fósforo, promovendo a eutrofização das águas, o ambiente torna-se propício à multiplicação excessiva de cianobactérias dando origem às chamadas “florações das águas”, fenômeno que está ocorrendo na Lagoa dos Barros neste momento”, afirma o texto.

A nota aponta ainda que o fósforo e nitrogênio são nutrientes altamente presentes em efluentes de esgoto. “Obviamente a estiagem e o calor contribuíram para esta floração, pois até então podemos dizer que o efluente estava sendo diluído na Lagoa dos Barros e logo no primeiro período de estiagem a floração já foi identificada”.

Precauções

O DMA alerta ainda sobre os riscos de contato com a água neste momento de floração de cianobactéria. A orientação é não tomar banho e nem consumir peixes obtidos na Lagoa do Barros. “Os sintomas provocados pela inalação incluem, por exemplo, rinite e conjuntivite; quando da ingestão podem ocorrer sintomas agudos como diarréia, náuseas, febre, vômito e cólicas abdominais; através do contato direto os sinais envolvem dermatites, conjuntivite e rinite”.

O que diz a Prefeitura de Osório

O prefeito de Osório Eduardo Abrahão disse acreditar que a alteração na coloração da Lagoa do Barros se trate de um crime ambiental, sem qualquer relação com a Estação de Tratamento de Esgoto do Município. “Não existe nenhuma relação com a Estação de Tratamento de Esgoto. Provavelmente, alguém, de uma forma inadequada, talvez até criminosa, fez algum descarte indevido na Lagoa do Barros”, disse o prefeito.

O secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Pecuária, Edilson Pires, afirmou que desde o início de março a situação está sendo monitorada pela Prefeitura. Segundo ele, mensalmente são realizadas reuniões e é avaliada a operação da ETE e não há qualquer irregularidade.

“Todos os laudos da nossa estação são apresentados, todas as amostras são passadas e seguem os padrões internacionais de controle de qualidade. Nós podemos garantir que os efluentes que estão saindo na ETE não tem nenhuma participação nesse fenômeno que está acontecendo”, afirmou o secretário.

Veja também: Órgãos ambientais investigam alteração na cor da água da Lagoa dos Barros

Leia na íntegra a nota da Corsan

“Após reunião realizada na sexta-feira (13) entre representantes da Sema e suas duas vinculadas – Corsan e Fepam – e o Ministério Publico Estadual sobre o episódio da coloração esverdeada na Lagoa dos Barros, a Companhia já iniciou a realização das ações acordadas.

Em que pese a Corsan não ter responsabilidade sobre o evento, o qual não foi causado pelo lançamento de efluentes tratados oriundos da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Osório, a Corsan adotará todas as medidas para colaborar com o caso.

Os primeiros resultados concluíram que o problema foi ocasionado por múltiplos fatores, intensificado pela condição climática com intensa restrição hídrica decorrentes também da estiagem e altas temperaturas. A Companhia já reduziu a emissão de efluentes na Lagoa dos Barros, desativou uma estação de bombeamento de esgoto e está transportando o esgoto que chega nela com caminhão para outra ETE.

Ficou definido também que a Corsan encaminhará ao MP na próxima semana relatório técnico sobre o assunto, salientando que a Companhia monitora a Lagoa dos Barros há mais de 10 anos e sua ETE desde a entrada em operação no fim de 2018.”

Leia na íntegra a nota oficial do Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura de Santo Antônio da Patrulha

“O que está acontecendo com a nossa Lagoa dos Barros?

Após análise laboratorial das águas da Lagoa dos Barros, realizada no Museu de Ciências Naturais da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (MCN-SEMA-RS), pela Dra. Vera Regina Werner, foi constatado que as manchas esverdeadas e azuladas na superfície da água e nas margens da Lagoa dos Barros são causadas pela multiplicação excessiva de uma cianobactéria denominada Dolichospermum planctonicum. Nas análises, a especialista também identificou outra cianobactéria (Dolichospermum circinale), porém de ocorrência rara. Assim, as mudanças na coloração da água e a formação de massas na lagoa dos Barros resultaram da floração (multiplicação excessiva) da cianobactéria D. planctonicum. Tais resultados são provenientes de observações de amostras da Lagoa dos Barros, coletadas periodicamente pelo Departamento de Meio Ambiente do Município de Santo Antônio da Patrulha, desde 6 de março passado. 

Estes microrganismos não são algas pois apresentam ao mesmo tempo características de algas e bactérias, sendo por isso denominadas de cianobactérias.

Em condições normais as cianobactérias e os demais organismos aquáticos convivem de modo equilibrado. No entanto, quando há algum tipo de poluente que enriqueça a água, principalmente nitrogênio e fósforo, promovendo a eutrofização das águas, o ambiente torna-se propício à multiplicação excessiva de cianobactérias dando origem às chamadas “florações das águas”, fenômeno que está ocorrendo na Lagoa dos Barros neste momento.

Florações de diferentes espécies de cianobactérias são mundialmente conhecidas, causando inconvenientes sanitários, alterando a cor, o cheiro e o sabor das águas e podendo também conferir toxidez às mesmas, devido ao potencial de produzir hepato, neuro e dermatotoxinas. Estes organismos também podem produzir geosmina, que exala um acentuado cheiro de barro ou mofo, que indica a presença das cianobactérias. A utilização de águas contaminadas por toxinas produzidas por cianobactérias pode ser a causa da mortandade de peixes e de outros animais, assim como de surtos de doenças agudas e crônicas.

Mas qual a origem da floração das cianobactérias na Lagoa dos Barros?

Há indícios de que após o início da operação da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) de Osório, operada pela CORSAN, a qual lança efluente na Lagoa dos Barros, surgiram condições para ocorrência deste evento de floração das águas observada nos últimos dias. Em primeiro lugar, porque a ETE está lançando seus efluentes desde dezembro de 2018 fora dos padrões estabelecidos no estudo de capacidade da Lagoa dos Barros – este estudo foi elaborado pela Fundação Luiz Englert, através do Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no ano de 2015 e propôs que a Lagoa dos Barros teria capacidade de receber o efluente tratado com limite de fósforo a 0,5 mg/L, parâmetro este ratificado em sentença judicial que autorizou a operação da ETE; no entanto os lançamentos têm sido superiores a este valor desde o início da operação da ETE, com valores superiores ao limite estabelecido no estudo em questão. Outro ponto a ser considerado é o relato dos moradores da região da Lagoa dos Barros, que afirmam nunca terem visto a lagoa do jeito que está. Além disto, fósforo e nitrogênio são nutrientes altamente presentes em efluentes de esgoto. Obviamente a estiagem e o calor contribuíram para esta floração, pois até então podemos dizer que o efluente estava sendo diluído na Lagoa dos Barros e logo no primeiro período de estiagem a floração já foi identificada.

O que está sendo feito?

Após a identificação da floração desta cianobactéria potencialmente tóxica o Departamento do Meio Ambiente de Santo Antônio da Patrulha – DMA e a Procuradoria Geral do Município – PGM, encaminhou comunicados aos  órgãos responsáveis – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler e Ministério Público do Rio Grande do Sul, recomendando a imediata suspensão da operação da ETE, baseado principalmente no princípio da precaução. Aliás, cabe salientar que antes mesmo deste evento de floração das águas a Prefeitura Municipal de Santo Antônio da Patrulha já vinha solicitando a suspensão da operação da ETE, pois esta não estava atendendo aos padrões estabelecidos na sentença judicial.

Além disto, em 11 de março de 2020 o balneário da Lagoa dos Barros foi interditado, a fim de evitar o acesso da população ao corpo d’água.

Almeja-se realizar análise da toxicidade desta floração na Lagoa dos Barros, e além disto, a equipe do Departamento do Meio Ambiente de Santo Antônio da Patrulha seguirá realizando o monitoramento da Lagoa dos Barros, a fim de acompanhar a evolução da situação de floração neste corpo d’água, assessorada pela especialista do MCN-SEMA.

Por fim, alertamos sobre os riscos de contato com a Lagoa dos Barros neste momento de floração de cianobactéria, seja através do acesso direto à água como através do consumo de peixes obtidos nesta Lagoa. Os sintomas provocados pela inalação incluem, por exemplo, rinite e conjuntivite; quando da ingestão podem ocorrer sintomas agudos como diarréia, náuseas, febre, vômito e cólicas abdominais; através do contato direto os sinais envolvem dermatites, conjuntivite e rinite.”

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