
A mulher investigada por enviar um áudio com conteúdo preconceituoso e discriminatório para gerentes da rede de farmácias São João, atuando como coordenadora das lojas da empresa no Litoral Norte, prestou depoimento à Polícia Civil. O interrogatório na Delegacia de Imbé foi acompanhado por um advogado e ocorreu nessa quarta-feira (27).
No fim da tarde desta quinta-feira (28), a Polícia Civil divulgou informações sobre o depoimento. De acordo com o delegado Antônio Carlos Ractz Jr., a investigada confessou ter enviado a mensagem de áudio num grupo de WhatsApp, que reunia gerentes de lojas de Tramandaí.
Conforme a Polícia, a mulher trabalhava na empresa desde 2008, foi promovida à coordenadora regional em 2020 e tinha sob sua supervisão as lojas de oito municípios: Rolante, Santo Antônio da Patrulha, Osório, Imbé, Tramandaí, Cidreira, Balneário Pinhal e Palmares do Sul.
Em seu depoimento, ela alegou arrependimento, sobrecarga de trabalho e problemas pessoais. Conforme a Polícia, também negou ter sido orientada pela empresa no sentido de discriminar candidatos.
Áudio preconceituoso
No áudio enviado a gerentes de lojas do Litoral Norte, a então coordenadora regional, que não teve o nome revelado, orienta sobre critérios para seleção de colaboradores.
“Vocês sabem que feio e bonito é o mesmo preço, né gente? Então vamos cuidar muito nas nossas contratações. Pessoas muito tatuadas, vocês sabem que a empresa não gosta, a questão piercing na língua, no nariz na testa, não pode, a gente lida com saúde”, diz em um dos trechos.
Em outro momento, ela fala sobre pessoas gordas e homossexuais: “Pessoas muito gordas vocês sabem que… então, assim, cuidem as aparências. Se pegar alguém de um, né, né, com todo respeito, veado e tudo mais, tem que ser uma pessoa alinhada, que não vira a mão e não desmunheque”, disse a mulher.
Celular será periciado
Na terça-feira (26), a empresa apresentou o seu diretor jurídico, que também confirmou que o áudio foi enviado por uma colaborada em um grupo de WhatsApp. Ele reiterou à Polícia conteúdo de nota enviada à imprensa anteriormente, afirmando que o grupo não é considerado canal de comunicação oficial e que a funcionária foi demitida por justa causa.
O diretor, acompanhado do advogado Ricardo Breier, representante da empresa, entregou um smartphone funcional que era utilizado pela empregada. O aparelho será encaminhado ao Instituto-Geral de Perícias (IGP) para análise e extração de dados.
Investigação
O delegado Antônio Carlos Ractz Jr. informou que a investigação ainda não foi concluída e que serão ouvidas outras testemunhas, entre elas colaboradores da empresa. “Apurar-se-á se algum candidato, em processos seletivos para as lojas de Imbé, teve negado ou obstado emprego na rede de farmácias em razão de sua orientação sexual, o que configuraria o crime de homofobia, equiparado a racismo, punido com pena de reclusão de dois a cinco anos”, informou Ractz.
O áudio que motivou a abertura do inquérito criminal também de um inquérito civil do Ministério Público do Trabalho viralizou nas redes sociais no fim de semana de 16 e 17 de outubro. Na segunda-feira, 18 de outubro, a rede de farmácias São João emitiu um nota afirmando que se tratava de fake news, mas acabou confirmando, em outra nota, no dia 22 de outubro, que a mensagem era de uma colaboradora.