Com finanças em crise, hospital de Osório corre risco de colapso: “Infelizmente não fomos ouvidos”

Instituição acumula déficit mensal de R$ 1,3 milhão e afirma ter condição de operar normalmente somente até o final deste mês

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Foto: Divulgação / Arquivo Litoral na Rede

O Hospital Beneficente São Vicente de Paulo (HSVP), de Osório, atravessa uma grave crise financeira. A situação cada vez mais difícil foi exposta pelo diretor-presidente Marco Aurélio Pereira em vídeo publicado nas redes sociais da instituição na última sexta-feira (08) [assista na íntegra no final da reportagem]. Nele, o dirigente admite a possibilidade de impactos nos serviços e no atendimento por conta do déficit cada vez maior nas constas do hospital.

Segundo ele, o fluxo normal dos serviços do hospital gera um custo médio mensal de R$ 3 milhões. A receita, porém, não passa de R$ 1,7 milhão. Isso significa que a instituição acumula, mensalmente, um déficit de R$ 1,3 milhão, o que, num curto prazo de tempo, pode representar um verdadeiro colapso nas atividades hospitalares. Estes e outros números estão detalhados num relatório de quase 50 páginas, publicado também na sexta, no site da instituição, onde a gestão hospitalar explica em detalhes o momento conturbado vivido pelo HSVP.

O custo mensal é distribuído entre o pagamento de funcionários – com salários e tributos – e  a aquisição de materiais e medicamentos, além dos serviços de reparo em equipamentos e de manutenção da estrutura física do hospital. A instituição presta atendimento, em média, a 70% de pacientes oriundos do SUS e 30% de convênios e particulares. A estrutura geral possui 126 leitos e conta com serviços de urgência e emergência 24 horas, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com 10 leitos, Centro Obstétrico, Bloco Cirúrgico, Psiquiatria e Hemodiálise.

Até o momento não há impacto significativo no atendimento à população de Osório e dos municípios da região para os quais a instituição é referência. Mas por ser ano eleitoral – e não havendo perspectiva de entrada de recursos oriundos de emendas parlamentares até o final do ano, Marco admite que, a partir do mês de agosto, o déficit deverá inviabilizar a continuidade de serviços e atendimentos na unidade.

Marco Aurélio Pereira, diretor-presidente do HSVP. Foto: Adriana Davoglio / Assessora de Comunicação da Câmara de Vereadores de Osório

Hospitais como o São Vicente de Paulo convivem há muito tempo com extremas dificuldades para manter o atendimento. Instituições particulares e filantrópicas, como é o caso do HSVP, possuem contrato com Governo do Estado do Rio Grande do Sul para prestar atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Os valores recebidos, no entanto, não cobrem os custos, ainda mais a partir da pandemia da Covid-19, que elevou significativamente o preço de medicamentos e materiais de consumo hospitalar.

A pandemia, aliás, também impactou na própria receita do hospital. Marco explica que de 2019 até este ano a instituição recebeu cerca de R$ 11 milhões por meio de articulação política da direção, do conselho consultivo e de lideranças partidárias, além de convênios estabelecidos com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas com a pandemia os repasses das prefeituras foram cortados. “Desde março de 2020 não recebemos nenhum auxílio financeiro dos municípios da região dos Bons Ventos”, comentou, referindo-se às cidades de Osório, Santo Antônio da Patrulha, Caraá, Mostardas, Palmares do Sul, Capivari do Sul e Tavares.

Há duas semanas, o Litoral na Rede noticiou o alerta do dirigente a vereadores de Osório. Foi uma das últimas cartadas da gestão para tentar alertar para o iminente risco de redução do atendimento à população, o que representaria um verdadeiro colapso na instituição. “Nós temos que agir. Não podemos chegar no final do mês sem dinheiro para pagar os funcionários ou para pagar os medicamentos”, apela Marco Aurélio. “Infelizmente as nossas demonstrações não foram ouvidas”, acrescenta, referindo-se aos apelos feitos a autoridades sobre a necessidade de maior aporte financeiro à instituição.

Marco diz que todas as medidas possíveis para contenção de gastos já foram tomadas. “Analisamos cada serviço para fazer cortes de despesas. Não há mais o que cortar ou reduzir”, garante. “Vamos respeitar o contrato com o SUS até o último dia. A partir dali, não teremos mais como manter o hospital”, sentencia. “É necessário e urgente que haja uma mobilização dos órgãos públicos e da sociedade no sentido de buscarmos uma solução permanente para a crise que se avizinha”, finaliza.

Veja a manifestação do diretor-presidente do HSVP:

 

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