Caravelas-portuguesas voltam a aparecer em Tramandaí; saiba o que fazer em caso de lesões

Guia lançado pela FURG busca traduzir questões científicas envolvendo a biologia desses animais e orientar banhistas sobre procedimentos em caso de contato com o animal.

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Foto: Thamires Silveira / Divulgação

Ainda que o aspecto colorido seja visualmente interessante, as caravelas-portuguesas, a exemplo das águas-vivas, têm se tornado uma dor de cabeça para banhistas que frequentam as praias gaúchas. No último domingo (09), exemplares da espécie foram vistos nas areias da praia de Oásis, em Tramandaí, além de outros pontos da região. Nos locais onde a incidência de casos é maior, os guarda-vidas do Corpo de Bombeiros instalaram bandeiras na cor roxa que alertam para a possibilidade de presença das espécies.

Em menos de um mês de Operação Verão, a corporação já contabilizou mais de 5,7 mil registros de lesões causadas pelas duas espécies. As queimaduras causadas por cnidários, como águas-vivas e caravelas, já ultrapassam a metade do registrado em toda a temporada passada. Os números, porém, ainda estão distantes dos alarmantes 44 mil atendimentos de 2020, o que não afasta a preocupação de quem se banha ou apenas caminha na areia.

O tema inspirou a publicação do Guia sobre Mães-d’água e Caravelas do Litoral Gaúcho, elaborado por professores do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (IO-FURG), da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar-USP), além de alunos do Laboratório de Zooplâncton do IO-FURG. Com uma linguagem acessível e que busca traduzir questões científicas envolvendo a biologia desses animais ao público leigo, o material lançado no início do mês esclarece que, devido à sincronia entre o período de maior abundância desses animais marinhos e o período de veraneio, é nas praias gaúchas, entre todos os estados do país, que ocorre a maior incidência de acidentes com espécies tóxicas de águas-vivas. O guia mostra quais são as principais espécies, as mais perigosas, quais são inofensivas, o que fazer e o que não fazer em casos de contato com estes organismos.

O possível aumento de incidentes pode ser atribuído a fatores de degradação dos oceanos, como o aumento da poluição, da pesca predatória e expansão das áreas com baixa concentração de oxigênio, que matam os predadores naturais das águas-vivas, como tartarugas e peixes. Além disso, o aumento da temperatura nos oceanos, em decorrência das mudanças climáticas, tende a favorecer a reprodução desses organismos. “O animal não é agressivo. Essas incidências são resultado da presença deles nessa época do ano, que acabam tendo muito contato com os banhistas”, afirma o professor da FURG Renato Nagata, um dos autores do guia, ao portal da instituição.

O material pode ser conferido na íntegra clicando aqui.

 As caravelas-portuguesas e suas diferenças para as águas-vivas

A Physalia physalis – nome científico das caravelas-portuguesas – é um indivíduo adulto, pelas dimensões e pela estrutura da colônia, repleta de indivíduos modificados e especializados em distintas funções como nutrição, reprodução, captura de presas e proteção da colônia. Segundo a bióloga e professora do Curso de Biologia Marinha do Campus Litoral Norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carla Menegola, é muito comum avistar espécimes grandes assim em águas tropicais, como no Nordeste, por exemplo. “Aqui as de grande porte são mais raras, mas indivíduos pequenos aparecem com frequência nas praias do Litoral Norte e mesmo ao sul do estado do Rio Grande do Sul, como por exemplo na praia do Cassino, em Rio Grande”, explicou a pesquisadora.

Conforme a professora da UFRGS, a espécie conhecida popularmente caravela portuguesa é representada por colônias cujos indivíduos são muito pequenos e carregados flutuando na superfície da água por meio do pneumatóforo, uma espécie de balão, que fica na parte superior. Já as mães-d’água ou águas-vivas são formadas por apenas um indivíduo, ou sejam, são indivíduos solitários. “Tanto os tentáculos quanto os braços orais dessas espécies contêm muitas células urticantes, chamadas cnidócitos, que carregam um cordão geralmente armado com espinhos e com toxinas que apresentam potencial ação alergênica e que causam queimaduras em níveis variados, a depender da sensibilidade e predisposição de cada pessoa a alergias”, detalhou Carla.

A pesquisadora lembra que o quadro clínico dos acidentes por cnidários, como águas-vivas e caravelas, depende da ação dermonecrótica (lesões na pele) e neurotóxica (lesões no sistema nervoso) do veneno, manifestando-se por placas lineares ou arredondadas eritematosas e dor intensa local e instantânea. Pode ainda haver náuseas, vômitos, dispneia, arritmias cardíacas, e edema agudo pulmonar nos casos mais graves, geralmente com cubomedusas, que são muito raras em águas costeiras, embora ocorram no Brasil.

A professora destaca que as medidas de primeiros socorros para acidentes por águas-vivas devem utilizar compressas de água do mar gelada ou aplicação de bolsas de gel para controle da dor. Além disso, banhos de vinagre no local atingido desnaturam o veneno. Ela recomenda que a lesão nunca seja lavada com água doce pois isto faz com que as células urticantes, que ainda estão íntegras, liberem o seu conteúdo, aumentando a área da queimadura e, consequentemente, a dor.

Ela orienta ainda jamais esfregar o local porque algumas dessas células urticantes ficam na pele das pessoas atingidas e, quando estas esfregam o local, elas “estouram” e liberam as toxinas. “Havendo dor persistente e incontrolável, dispneia, tosse, coriza, taquicardia ou arritmias, pode-se estar diante de quadros mais graves que necessitam atendimento hospitalar imediato”, orienta a bióloga.

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