
Um bugio foi flagrado cruzando a RS-040 por uma das pontes de cordas instaladas pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) para a travessia segura de animais. O registro foi feito por um caminhoneiro na última segunda-feira (05).
Morador de Viamão, Jairo Machado flagrou o bugio adulto cruzando a rodovia por uma das 21 pontes instaladas pela EGR entre os quilômetros 13 e 16, no quilômetro 21 e entre os quilômetros 39 e 42 da ERS-040, na altura do município de Viamão. Ele usa a rodovia nos deslocamentos diários ao trabalho e conta que as travessias suspensas chamaram a atenção.
“Desde que a EGR instalou as passarelas, almejava registrar os bugios. Antes, era comum ver os animais atravessando pela pista e até mesmo mortos por causa dos atropelamentos. Mas nesse dia, deu certo. Parei o carro e fotografei, apesar deles serem muito ágeis”, comentou Jairo.
O animal, bastante encontrado no entorno da rodovia, é considerado ameaçado de extinção e é protegido por lei. Não raramente também é possível encontrar outras espécies de animais no local, como ouriços, gambás, roedores e marsupiais de pequeno porte.
Segundo a EGR, a preocupação relatada pelo caminhoneiro foi o que motivou a instalação dos passadores. A empresa entende que era necessário reduzir o impacto ambiental ocasionado pelo atropelamento de fauna, especialmente do bugio-ruivo, além de aumentar a segurança da rodovia para os usuários.
As travessias foram posicionadas em outubro deste ano em seis zonas críticas da RS-040 a partir de estudos minuciosos que envolveram técnicos e especialistas. Os pontos de implantação foram definidos a partir de estudos que consideraram os registros de mortes de animais, o número de carcaças localizadas ao longo da rodovia pelas equipes de conservação e manutenção, o mapeamento da vegetação florestal e, por fim, a identificação da provável ocorrência do bugio-ruivo nos ambientes marginais da estrada.
“As estruturas foram projetadas para os animais se locomoverem pelas copas das árvores, diminuindo o deslocamento necessário para que os bichos encontrem uma oportunidade segura de cruzamento entre os dois lados da rodovia”, explica Luiz Fernando Záchia, diretor-presidente da EGR.
De acordo com a equipe do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Nerf/UFRGS), que atua em conjunto com os Serviços Técnicos de Engenharia (STE) na execução do Programa de Proteção e Monitoramento de Fauna da EGR, há experiências de sucesso com a utilização do mesmo tipo de estrutura em outros locais do Estado, até mesmo em áreas mais urbanizadas, como é o caso das pontes de corda instaladas no bairro Lami, em Porto Alegre.
Conforme o projeto Fauna Digital do Rio Grande do Sul, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o habitat do bugio-ruivo é a Mata Atlântica e a floresta nativa de regiões com alto índice de pluviosidade. Ele possui hábitos diurnos, vive em grupos e é arborícola.
Algumas características desse animal chamam a atenção, como a emissão de vocalizações que podem alcançar longas distâncias como mecanismo de organização de um grupo e manutenção do espaçamento entre os demais. Esses primatas utilizam a cauda preênsil para locomoção na copa das árvores e, raramente, são vistos no solo. Sobre a alimentação, é rica em folhas e flores.
A ação humana sobre o meio ambiente, com o crescimento urbano, a conversão da terra e a redução das áreas florestais representa importante ameaça para os bugios-ruivos. Além disso, a espécie é vítima de atropelamentos, choques elétricos e ataques de cães.