Áreas litorâneas estão afundando? Caso de Maceió serve de alerta para situações de exploração de solo

Afinal, o que aconteceu em Alagoas pode se repetir em outras regiões do país?

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Mina 18, da Braskem, pode desabar a qualquer momento. Foto: Gilberto Júnior / Agência Alagoas

por Tatiane de Sousa, jornalista

Calma. O que aconteceu em Maceió não vai acontecer por aqui. Pelo menos por enquanto e não pelos mesmos motivos.

A causa do afundamento do solo em parte da cidade nordestina é a exploração de forma inadequada de recursos minerais, no caso sal, de camadas profundas do terreno. Mas é preciso atenção: no mundo inteiro o homem vem danificando a natureza de tal modo que estudos já apontam que o nível dos mares está subindo devido ao derretimento de gelo na terra e, em nível local, afundamento de solo de acordo com o aumento do nível do mar.

Caso de Maceió: conhecida como “Paraíso das Águas”, Maceió vive um drama anunciado. No entanto, a população de cerca de um milhão de pessoas da capital de Alagoas não esperava o alerta de colapso em uma das 35 minas da Braskem, o que resultou na evacuação de quatro bairros e retirou de casa 60 mil moradores.

Os primeiros sinais foram percebidos em 2018, quando as primeiras rachaduras nos imóveis foram verificadas pelos moradores do bairro Pinheiro. Logo depois, um tremor de terra agravou a situação. Em 2019, um prédio foi evacuado e uma rua interditada. Logo a situação se espalhou para outros bairros.

No entanto, só em 2019 a mina foi fechada pela Braskem, responsável pela exploração de sal-gema em Maceió. A empresa, então, anunciou o processo de fechamento das galerias subterrâneas. Mesmo assim, muitas pessoas precisaram se mudar e a Braskem começou a indenização dos proprietários. No início desse ano, foi firmado acordo para indenização da prefeitura em R$1,7 bilhão.

O último bairro afetado e que gerou toda a discussão no momento foi o Bom Parto, onde moradores deixaram suas casas às pressas por decisão judicial.

Por que aconteceu?

O geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Antônio Pedro Vieiro, explica que a lavra de sal na região iniciou em 1979. “Os sismos no entanto, só aconteceram mais recentemente porque antes os volumes das galerias eram menores, as cavidades eram pequenas porque, para que não haja problemas, elas devem ter em média 900 metros”, detalha.

Ele aponta ainda que são minas de sal, cloreto de sódio (NaCl) para uso industrial. “Para chegar a ele são feitos poços que podem ir até 1.200 metros de profundidade. Então é injetada água com altos níveis de temperatura e pressão, que dissolvem o sal bombeado para a superfície como salmoura, onde o sal é separado. As galerias deveriam ser controladas em termos de dimensão, no tamanho de cada uma delas, no que se refere raio horizontal e altura, a distância de uma cavidade a outra, o que parece que não foi respeitado e por isso não há sustentação causando os sismos”, esclarece o geólogo.

De acordo com especialistas, o que aconteceu é que, para aproveitar ao máximo a exploração do recurso, não foram respeitados dimensionamentos mínimos entre as chamadas colunas (distância ente as galerias).

O que pode ser feito para que o risco diminua?

O afundamento no bairro Mutange atingiu 2,06 metros de profundidade na sexta-feira (08). O deslocamento vertical é de 0,23 cm por hora, segundo a Defesa Civil local.

Para evitar o colapso, os túneis deveriam ter sido preenchidos com areia após a exploração para estabilizar o solo. O processo começou a ser feito recentemente pela Braskem, mas de modo muito lento. A empresa diz que o trabalho foi concluído em cinco das nove minas em que o processo foi recomendado. Na mina 18 que colapsou, o preenchimento ainda não tinha sido feito. Mas o fechamento definitivo dos poços está previsto para meados de 2025.

Afinal, o que aconteceu em Maceió pode se repetir em outras regiões do país?

Em nenhuma outra região do Brasil acontece uma situação semelhante a essa de Maceió. “Na Bahia, há poços de exploração de cloreto de potássio, minério usado para produção de fertilizantes. Mas não fica em área urbana como em Maceió. Tampouco a situação em Alagoas acontece por conta de a área ser no litoral”, salienta o professor Viero.

No entanto, um estudo publicado na revista científica Nature Climate Change, apontou que “habitantes de áreas litorâneas do mundo inteiro estão observando um aumento do nível do mar mais extremo do que o normal, porque estão concentrados em áreas onde as terras estão afundando mais rapidamente”.

Pela ação humana acontecem a extração de água, de areia e petróleo e gás, além da construção de barreiras em rios para evitar inundações. Esse último processo por exemplo, que pode parecer benéfico as populações ribeirinhas, causa uma estagnação da movimentação sedimentar que prejudica o solo.

Conforme aumentam as populações nas cidades litorâneas, maiores são os problemas porque há necessidade de adaptações para a vida local. O lado bom é que, como se sabe que o agravamento do problema se dá pela ação humana, a situação está na redução dos danos causados ao meio ambiente, que podem estagnar a dissolução das geleiras e o avanço do mar.

No entanto, de acordo com o estudo, se a subsidência (deslocamento para baixo da superfície da terra em relação ao nível médio do mar) continuar e o aumento das populações ribeirinhas também, até 2050, serão afetadas 280 milhões de pessoas.

Pelo mundo:

Xangai (China) – A cidade que chegou a ser uma vila de pescadores cresceu em ritmo acelerado e a adaptação ao número de habitante se deu pela construção de infraestrutura. Como resultado, houve aumento do nível do mar, erosão e susceptibilidade a desastres naturais. Conhecida como ilha do calor, a cidade chinesa teve que adotar medidas para evitar que toda a área fosse submergida em alguns anos. Entre as ações estão a limitação da população em 25 milhões de pessoas e o estancamento em obras que possam ajudar no afundamento do solo, como por exemplo, escavamento de tuneis e regras severas para extração de água.

Pequim (Japão) – A cidade está afundando lentamente. A revisão do sistema de trens subterrâneos está acontecendo depois de se constatar o afundamento do solo em 15 linhas do transporte. Além disso, a extração de água é um grande problema: um projeto elevou em mais de dez metros o lençol freático, mas de acordo com especialistas, as medidas ainda são pequenas para conter o avanço das águas.

Louisiana (costa sul-americana) – Várias cidades adotaram planos para restauro do ciclo de crescimento do pântano com a construção de buracos ao longo de diques construídos na década de 20. O transbordamento dos sedimentos é o resultado esperado.

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