Ansiedade climática e o futuro roubado: a angústia diante do colapso ambiental

Por Juliana Ramiro, psicanalista – colunista sobre saúde mental

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Enchente em Porto Alegre, junho de 2024. Foto: Rafa Neddermeyer / Agência Brasil / Arquivo

“Não há planeta B”. A frase, repetida em discursos políticos e cartazes de manifestações, carrega um grito angustiado que ecoa pelo mundo. Na última reunião da ONU, o presidente Lula destacou a urgência de uma saída coletiva para a crise climática. Mas enquanto se fala em cúpulas internacionais, o colapso já bate à porta: enchentes que destroem cidades, secas que arruínam plantações, alimentos que encarecem, ruas que viram armadilhas, um medo silencioso sobre o futuro.

Essa experiência atravessa a todos nós e tem nome: ansiedade climática. Uma angústia que mistura impotência, culpa e desamparo diante de um futuro que parece roubado. Afinal, como projetar sonhos quando o amanhã se anuncia sob o signo da catástrofe?

Diante desse mal-estar, dois caminhos se apresentam. Um é o da negação: “não está acontecendo nada”, dizem líderes como Donald Trump, que lucram politicamente e economicamente com o caos. A negação anestesia, mas a realidade insiste em se impor. O outro é o do excesso de informação: sabemos demais e, junto com o saber, vem o peso da impotência. A tentação é paralisar.

Mas a impotência não pode nos condenar à inércia. Há escolhas possíveis. No plano individual, mudar hábitos, repensar o consumo, reduzir excessos. No plano coletivo, fortalecer a democracia escolhendo representantes comprometidos com a vida e não com o lucro a qualquer custo. E talvez o mais importante: educar as próximas gerações fora da lógica do acúmulo. Ensinar nossos filhos a cultivar o ser mais do que o ter, a se relacionar com a natureza não como mercadoria, mas como casa comum.

É nesse ponto que a psicanálise pode nos ajudar a pensar: quando nos deparamos com algo que parece impossível de resolver — como a finitude da vida ou, aqui, a finitude dos recursos do planeta — não se trata de negar, mas de elaborar simbolicamente. Isso significa criar novos modos de relação, novos valores e práticas que nos permitam seguir vivendo, sem paralisar diante da angústia.

Freud, em Totem e Tabu, cita uma tribo que se recusava a explorar a terra, pois a viam como mãe, e ninguém ataca o corpo da mãe. Desde que li esse trecho, sempre me pergunto: quem são, afinal, os verdadeiros “primitivos”? Aqueles que protegem a terra ou aqueles que destroem o corpo que nos sustenta?

Pensar sobre isso é urgente. Afinal, como lembra Ailton Krenak: a gente não come dinheiro.

Te convido a refletir mais sobre este e outros temas acompanhando os episódios do Psi Por Aí, disponíveis no YouTube e no Spotify. E, claro, siga também o Psi Por Aí nas redes sociais. Aceito sugestões de temas! Até a próxima semana.

  • Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura. E-mail: admin@julianaramiro.com.br

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