Abordagem Pikler – Dá para fazer em casa?

Por Juliana Ramiro, psicanalista

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Imagem meramente ilustrativa. Михаил Мингазов por Pixabay

A abordagem Pikler surgiu no século XX, desenvolvida pela pediatra húngara Emmi Pikler, e tem como princípios fundamentais o movimento livre, a autonomia, as rotinas e o cuidado respeitoso. Seu método revolucionou a forma como entendemos o desenvolvimento infantil, destacando que crianças criadas com respeito e liberdade de movimento desenvolvem maior segurança e autonomia.

Hoje, muitas escolas de educação infantil adotam essa abordagem, mas para que funcione de forma eficaz, é essencial que a linguagem da escola esteja alinhada com a de casa. Afinal, de nada adianta a criança ter um ambiente que estimula sua autonomia na escola e, ao chegar em casa, encontrar um cenário totalmente diferente.

Autonomia não significa ausência de cuidado. Trata-se de permitir que a criança faça aquilo que já é capaz de fazer por conta própria, sem colocar sua segurança em risco. Para isso, o ambiente precisa estar preparado, oferecendo espaços seguros onde a criança possa explorar e desenvolver suas habilidades sem intervenções desnecessárias.

Outro aspecto essencial da abordagem Pikler é a comunicação respeitosa. Conversar com a criança, explicar o que vai acontecer e apresentar as rotinas de forma clara são formas de proporcionar segurança emocional. Quando a criança sabe o que esperar do ambiente e das pessoas ao seu redor, ela se sente mais confiante e tranquila.

No dia a dia, isso significa estabelecer regras e limites com diálogo e afeto. Punições físicas ou agressivas apenas fragilizam o vínculo, tornando a palavra dos adultos cada vez mais ineficaz. Quando o limite se torna sinônimo de violência, perde-se a oportunidade de ensinar com respeito e empatia.

Outro ponto fundamental é confiar na escola e nos professores. Eles são especialistas na infância, no desenvolvimento infantil e no cuidado com as crianças. Construir uma relação de parceria entre família e escola fortalece a experiência da criança e ajuda a criar um ambiente de aprendizado mais saudável.

Por fim, o mais importante: para ser uma referência segura de cuidado, você precisa estar bem consigo mesmo. Cuidar de uma criança exige paciência, presença e afeto – e tudo isso só pode ser oferecido de forma genuína quando o adulto também se sente acolhido. Olhar para si com gentileza e buscar formas de autocuidado são passos essenciais para oferecer o melhor para o seu filho.

A abordagem Pikler não é exclusiva das escolas. Ela pode, e deve, ser incorporada ao dia a dia das famílias, promovendo um ambiente mais respeitoso, seguro e saudável para o desenvolvimento infantil.

Esta semana conversei com a pedagoga Anelise Anelise Flôres, mestranda em psicologia, educadora parental e pesquisadora das infâncias e processos de desenvolvimento infantil, que falou da sua experiência na escola com a abordagem Pikler e como ela acontece num diálogo entre a família e o ambiente escolar.


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  • Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura. E-mail: admin@julianaramiro.com.br

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