
Quem já caminhou pelas dunas do Litoral Norte gaúcho possivelmente já se deparou com um animalzinho pequeno e “trabalhador”: o tuco-tuco das dunas (Ctenomys flamarioni). Sua principal atividade é cavar verdadeiros túneis nos ecossistemas de areia que costeiam a orla da região. Nesse domingo (07), o repórter fotográfico Jefferson Botega conseguiu registrar o roedor e compartilhou as imagens em suas redes sociais [veja o vídeo no final da reportagem].
Acompanhado da esposa, Botega aproveitava o dia próximo à guarita 162, na praia de Nova Tramandaí, distrito da cidade de Tramandaí, quando percebeu a presença do animal em meio às dunas. Foi então que decidiu colocar uma câmera especial próximo à toca.
“O tuco-tuco não quis mais dar as caras. Então, posicionamos cuidadosamente mais longe, atrás da toca. Aí foi só admirar de longe ele cavar, cavar, e cavar”, contou a consultora e professora em design de moda Tati Laschuk, esposa de Botega, na publicação compartilhada pelo casal.
De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, a espécie, ameaçada de extinção, é habitante da primeira linha de dunas da planície costeira do estado do Rio Grande do Sul, podendo ser encontrado desde Arroio Teixeira, em Capão da Canoa, até o Arroio Chuí, na divisa com o Uruguai, no Litoral Sul gaúcho.
Caracterizados por uma pelagem cor de areia, corpos robustos e cilíndricos com pernas curtas e caudas peludas, os tuco-tucos medem de 15 a 25 cm de comprimento e pesam cerca de 200 gramas, segundo estudo da Associação O Eco. Eles nascem, crescem, alimentam-se e reproduzem-se dentro das tocas. Na busca por alimentos, passam a maior parte do dia construindo túneis e passagens ao redor da toca, tendo uma dieta constituída por folhas, talos e raízes de gramíneas, além de ciperáceas (como capim-cidreira) que nascem junto às saídas de suas tocas.
Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) classifica o tuco-tuco das dunas como um animal subterrâneos e solitário, com apenas um indivíduo por cada sistema de túneis, e uma das espécies mais ameaçadas do gênero, sendo listada como em perigo de extinção (EN) pela IUCN Red List of Threatened Species (IUCN 2010), uma vez que seu hábitat permanece em constante alteração, seja pela ação dos ventos e das marés, ou pelo avanço da ocupação antrópica.
“As populações desta espécie vêm sofrendo um impacto cada vez maior devido a alterações ininterruptas no seu hábitat, com destaque para o Litoral Norte do Rio Grande do Sul. A principal ameaça é a remoção da primeira linha de dunas, prática que tem como objetivo a urbanização e a especulação imobiliária do litoral, gerando uma descaracterização deste ambiente”, afirmam as biólogas Luiza Gasparetto e Thamara Almeida, que lideraram a pesquisa.
“Além do impacto antrópico sobre as dunas, como o pisoteio e deposição de lixo, a presença de espécies domésticas, silvicultura e monoculturas também podem ameaçar a permanência da espécie no local”, alertam.
Assista o flagrante: