
A educação dos filhos costuma ser um tema que gera dúvidas, angústias e, não raro, culpa. Entre o medo de “estragar” a criança e o receio de ser permissivo demais, muitos pais se perdem em teorias, comparações e cobranças — próprias e dos outros. Mas, antes de educar, existe algo ainda mais essencial: amar.
Parece simples, mas nem sempre é óbvio. Amar é garantir à criança a certeza de que, aconteça o que acontecer, ela é aceita. Quem se sente amado não precisa chamar atenção de forma negativa — não precisa “atuar” para existir aos olhos do outro. Uma criança amada se sente inteira e segura, e isso diminui boa parte dos “problemas de comportamento” que vemos no consultório.
Criança é um sujeito em formação. Cada birra, cada erro, cada bagunça é também uma tentativa de entender o mundo e os limites. Por isso, um exercício útil é tratá-la como quem trata uma visita querida: acolhe, explica, mostra caminhos. Afinal, ela está visitando aquela experiência pela primeira vez. A forma como reagimos vai moldar como ela, no futuro, reagirá com o mundo — e consigo mesma.
Outro ponto importante: pais não são perfeitos — nem precisam ser. É saudável para a criança ver que os adultos também erram e sabem reconhecer seus erros. Gritou, perdeu a paciência? Peça desculpa. Assuma a responsabilidade. Isso não diminui sua autoridade, pelo contrário: humaniza você aos olhos do seu filho. Mostra que errar faz parte, mas tentar de novo também.
O excesso de cobranças na infância gera, no futuro, muitas vezes, o contrário do que se espera: um adulto paralisado, travado pelo medo de errar, refém de um superego severo. Alguém que se destrói por dentro a cada tropeço, porque nunca aprendeu a lidar com as próprias falhas de forma saudável.
A infância é o solo onde lançamos as sementes de como vamos enfrentar o mundo. É responsabilidade dos pais oferecer oportunidades de aprendizado que sejam, acima de tudo, saudáveis. E isso inclui o direito de ser criança, de ser amado, de errar e tentar de novo — junto de adultos que reconhecem que também estão aprendendo.
No consultório, vemos crianças machucadas pela falta de amor — e pais perdidos, sufocados pelas próprias dores e desafios. É possível mudar isso. A base é simples, mas profunda: amar antes de educar. Quem consegue amar, consegue educar. E quem é educado com amor, respeita — não por medo, mas por afeto e confiança.
Para aprofundar este tema, te convido a ver e ouvir o episódio da semana do podcast Psi Por Aí, em que falo, respondendo algumas perguntas que recebi nas redes sociais após o artigo da última semana, sobre como o amor e o cuidado moldam a forma de educar e de aprender.
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- Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura. E-mail: admin@julianaramiro.com.br